domingo, 24 de julho de 2011

DICAS DE ETIQUETAS E OUTRAS BABOSEIRAS IMPOSSÍVEIS...

Por José Cícero

DICAS DE ETIQUETAS...
Qualquer semelhança não será mera coincidência.

Troque seu pente e sua bolsa chique
por um canivete e todo o seu orgulho besta
por um daqueles espelhinhos de bolso
antigo e redondo de artista e mulher pelada
que a gente comprava nas bancas da feira
por um pequeno trocado.
Troque seu sutiã e toda a sua sexy langerie
por um corpete encorpado
daqueles que se encontrava fácil
aos montes, nos velhos mercados
junto das bancas dos açougueiros
próximo do beco onde se amarravam os cavalos.
- ‘Só no Crato’ mesmo!...
Esse negócio de moda nos dando ordem!
Troque logo, troque...
sua calçinha de renda cearense
por uma bela anágua de viúva.
Suas sombras dos olhos que mais parece um conde Drácula
por uma leve pintada nunca indecorosa,
de pó de arroz, ruge carmin e talco
Alma de Flor e Charisma da Avon que são baratos.
E não esqueça também de comprar
uma latinha de brilhantina para meu presente.
Sabonete febo e Gessy e um baton à base de urucum.
sua cerveja por uma garrafa de Crush, Grapette e Fanta uva.
Troque já seu modes absorvente por uma rudia
de pano branco de algodão murim
um tanto encardido e macio,
mas que pode ser sempre relavado.
Isso não lhe trará nenhum incômodo
além de tudo é muito prático,
quando estiver suada naqueles dias ruins.
Troque também antes que eu me esqueça,
O salão de beleza que é caro e tem muita química
para seus cabelos,
por um bonito conjunto de Bobes verdes e amarelos
faça da tua cabeça um verdadeira jardim de Iracema
Cuide bem da sua saúde e da beleza
porque hoje, o que vale é uma natural imagem
Um tanto quanto brejeira e muito mais amena.
Dê um trato nos rachões dos pés e nos calos dos teus dedos
com um pouco de querosene jacaré e creolina.
massageie as tuas ancas com uma emulsão de pedra-una.
Tire todos os cravos do rosto e a sujeira das unhas
com mináncura e uma faca de cozinha pontiaguda,
isso tudo instigará ainda mais a paixão que tenho
e minha libido ficará lá em cima, nas alturas.
Ficarei amarradão nas suas coxas e pernas cabeludas,
seus beijos lambuzados de manga
cheirando a peixe frito e óleo de pequi.
E todo o resto deste segredo que te aconselho
e de graça te indico,
só direi quando sozinhos no banheiro
ou no escuro do teu quarto.
Por último ainda,
corte a tuas unhas com a tesoura da costureira
não use esmalte apenas a loção de colorama.
não fume mais e nem masque fumo de rolo.
Troque seus brincos e pulseira
por um crucifixo barato e milagroso
de padre Cícero e Nossa Senhora das Dores
comprados por um pechincha
na subida das escadas do horto de Juazeiro.
Não raspe seu pêlos, naturais,
eles são tão bonitos - eu acho.
apenas lave-os bem
de modo intenso e demorado
deixe-os sedosos com aquele cheiro
de sabão de coco,
vendido às pampas no balcão da bodega
de seu Nonato.
Quem se ama se cuida assim - eu te digo.
Eis a mulher que todo homem verdadeiro,
e 'inteirado' como eu, ama, deseja e sonha
para toda a sua vida.
Por fim, não coma nada carregado
quando estiver naqueles dias de vermelho.
Por fim, escute no domingo na missa,
todo o sermão do santo padre
mas não esqueça,
numa distância segura
que eu sempre te veja.
.........................

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Fotos: Da Internet(Arquivo Nirez)

sábado, 23 de julho de 2011

ARTIGO: Aurora em reminiscências*

AURORA – Uma saudade antiga...

Por José Cícero


Quantas são as saudades e tantas são as lembranças que temos ainda hoje da Aurora e da sua sociedade de outrora. Quantas recordações mantemos guardadas no funda da nossa memória de antigos anos, momentos marcantes daquela Aurora-passado. Da sua boa gente e da sua história: bela, trágica e tremenda.
De acontecimentos que de algum modo substantivo assinalaram para sempre a vida social da nossa urbe. Quantas figuras humanas das mais simples às mais importantes continuam ainda agora eternizadas no livro dos anos e nas paredes das nossas recordações memorialistas. Quantas saudades históricas e afetivas estão ainda hoje impregnadas nas nossas memórias mais latentes e adormecidas, como poeira de antigas estradas se dissipando aos poucos por todas as léguas tiranas do tempo e da vida?

Quantos causos, quantas estórias e histórias. Quantas fatalidades, quantos instantes felizes, quantas injustiças, quantas tragédias que agora se misturam num turbilhão relembranças em meio ao presente insosso das nossas vivências cotidianas. Quantos momentos inesquecíveis. Quantas cenas indeléveis. Quantas passagens inexoráveis. Quantas coisas ainda por lembrar, quantas queremos esquecer. Quantos conflitos, quantos traumas existenciais guardamos no nosso baú de ossos ou simplesmente os carregamos como tesouros ou mesmo como fardos pesados sobre os ombros e sobre as nossas costas.
Quem conseguirá talvez passar incólume a todos estes anos e não ser tocados de alguma maneira pela força descomunal destas recordações ressabiadas e dolentes. Como se fossem folhas espinhentas de cansanção e urtiga a nos acordar do sono letárgico do tempo presente em que estamos(de certo modo) mergulhados.

Saudades e saudade... Relembranças de uma Aurora passado, provinciana e alvissareira. Quando as pessoas eram movidas pela solidariedade de grupo num mais absoluto senso prático. Um mundo social de uma gente centrada na comunhão da amizade, quase como uma profissão de fé. Sem nenhum ranço de egoísmo ou esperteza onde as preocupações de um futuro distante, não iam além de injunções carcomidas no mais das vezes paroquiais.
Remoção de uma vida quase que exclusivamente bucólica, de uma sociedade um tanto medieva e familiar.
Quem conseguirá talvez, não sentir saudade?
Das antigas alegrias compartilhadas numa sinergia jamais vista. Dos momentos inquebrantáveis dos anos idos. Da ânsia que alimentava o contentamento de se esperar todos os dias o trem na velha estação. Da festa do santo padroeiro animado pelos leilões gritados por Romão Sabiá, dos toques do sino e o velho relógio da matriz. Do som do antigo órgão e do violão de Joaquim Paulino. Das missas antológicas e dos sermões quase proféticos e beneditinos do Monsenhor Vicente, Padre Luna e Padre França. Das beatas e dos fiéis e devotos levando os quadros de santo para “Benzer”, dos frascos de água benta e da festa que era o domingo de ramo. Dos tempos estudantis do colégio paroquial. Dos grupos de jovens e escoteiros.

Dos artistas mambembes do meio da feira, dos cantadores de viola, do circo dos irmãos: Fuxico, Enoque pintor e Lurdes Bom-Conselho. Dos parques de diversão, do pau de sebo, das quadrilhas juninas do Araçá, do café da estação de Maria Rocha, do pastel de Vicência Marcel, da banda de Esmerindo cabrinha, dos banhos de rio na barragem do Salgado quando não havia ainda a ponte. Das matas fechadas e da safra das frutas.

Das histórias de jagunços e cangaceiros que nos contavam. Das estórias de trancoso e da lenda de Vicente Finim que nos causavam medo. Das inesquecíveis noites de natal e dos folguedos juninos. Das antigas festas no pátio da igreja e na ABA. Das novenas de maio e das renovações festeiras nos sítios e na cidade. Dos forrós de pé-de-serra sob as músicas de Abdias, Messias Holanda, Marinês, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Trio Nortista e Nordestino e tantos outros artistas do povo que ouvíamos pelo rádio, alto-falantes dos parques e a difusora da cidade.

Dos namoros sem maldade no banco da pracinha e das tertúlias caseiras ao som da radiola de discos. Dos jogos do Maguari dos sapateiros, do Ceará de Jarim Barros, do Santos de mundinho Padeiro e do 15 de julho do Dr. Bastim. Do patronato e da escolinha de Socorro Araripe. Da antiga Cnec que funcionava no casarão do cel. Xavier. Dos belos desfiles da miss aurorense – a rainha do município, das imortais paradas de 7 de setembro. Da fila para cantarmos o hino na escola. Do catecismo para a primeira comunhão. Do romantismo escolar dos educandários. Das revistas em quadrinhos e de mulheres peladas que escondido, olhávamos no banheiro com medo de uma surra quando fôssemos pegos.
Saudades de antigos profissionais: barbeiros, sapateiros, chapeados, alfaiates, botadores de água, vendedores de lenha em jumentos, das lavadeiras e engomadeiras de roupas com ferro de Brasa. Das parteiras que muito chamavam de cachimbeiras, seleiro, rezadeiras, ciganos, doidos viajantes, raizeiros, flandeiros, açougueiros em suas bancas de carnes espalhadas pelo velho mercado. Enfim, saudades das figuras populares que marcaram, tanto quanto algumas autoridades, a vida cotidiana da nossa cidade. Saudades dos ébrios clássicos. Dos conhecidos freqüentadores do cabaré da beira da linha e suas “raparigas” valentes a que todos conheciam pelo nome.

Saudade dos farmacêuticos (os médicos daquele tempo) e dos dentistas práticos com seus temíveis alicates quase similares aos que serviam para o conserto do motor da luz. Saudade dos agentes da estação, do som do velho telégrafo, do toque do sino e do apito do trem depois da passagem do corte grande. Saudade dos primeiros automóveis: do gordinho, aerowillis, do jipe, da rural, do velho caminhão à manivela, do misto da feira, do fusca e do maverick disputando espaço pelas ruas estreitas com as carroças, carro de boi e os cavalos baixeiro dos fazendeiros potentados.

Lembranças das narrativas tristes de assassinatos históricos, dentre os quais do farmacêutico quem matou a esposa(em defesa da honra) e foi absolvido, da mátir Francisca que foi barbarizada, bem como do coronel Izaías Arruda no trem da feira pelos irmãos paulinos, caindo em seguida na pedra da estação. Da trama de Lampião junto com seu bando na Ipueiras com vistas a invasão de Mossoró. Do célebre fogo do Taveira. Das acirradas disputas eleitorais, da festa do nosso 1º centenário marcado pelo discurso eloqüente do ínclito literato do Cariri - Joarivar Macedo. Saudade dos quadros de Aldemir, das esculturas de Nego, dos versos perfeitos de Serra Azul. Da malhação do Judas, das rezas da semana santa, das estórias de botijas, alma penada, crimes e castigos. Dos improvisos literários do vate Dantas Quesado, das narrativas de Hermenegildo, dos anos áureos da Cooperativa instigado pela produção do ouro branco – o algodão.

Do ciclo da rapadura, do milho, da oiticica, dos antigos cambistas do jogo do bicho, dos vendedores de loterias e dos valentes admiradores do comunismo histórico, escondidos em seus encontros políticos distribuindo O Democrata: seu Biró, Vicente Ricarte do Araçá, Seu Gonzaga e tantos outros camaradas admiradores de Lênin, Grabois, Ever Hosxa, Brizola e Fidel Castro.

Saudades das bancas de bugigangas da feira-livre, da garapeira do seu Sinhô, das comidas caseiras, dos bolos de milho e de puba na palha de bananeira e de cordéis de José Bernardo. Da festa da sociedade da ABA, das viagens de trem ao Juazeiro. Dos antigos e inolvidáveis cafés de Sabina, Zé Quinze, Maria Secundina, Terezinha de Américo, Chiquinha, Dona Fransquinha e Miriam... Saudades dos velhos marchantes, carroceiros, donos de engenhos, dos vendeiros e botadores de águas e de lenha com seus feixes em lombos de jumentos. Dos guarda-chaves da estação, dos guardas noturnos – Inspetor de quarteirão - , dos cambiteiros e cortadores de cana, dos antigos canaviais adornando a paisagem da Aurora.

Dos banhos no rio, das safras de frutas maduras, dos peixes das invernadas, das enchentes do Salgado, das cheias dos açudes, das época de secas, das frentes de emergência, dos bodegueiros de antigamente, das festas dos casamentos na matriz, do cinema e da escola do Círculo Operário, da meninada gritando com o palhaço da perna de pau, do futebol de várzea, das brincadeiras de rua, do bate-papo das pessoas todas as noites pondo suas cadeiras nas calçadas, das antigas residências enjardinadas, quando não havia ainda o medo da violência e dos ladrões do mundo.
Saudade das ruas de terra, das casas de tijolos de piso liso e da periferia de taipa de chão batido, dos vendeiros pelas portas, das pessoas carregando água na lata e no galão. Da venda de comida na pedra da velha estação. Do pote ou da Cantareira. Do rádio de pilha. Da penteadeira, do sabor das comidas caseiras e da música sem apelação prenhe de romantismo, poesia e emoção.
Tudo o mais agora em Aurora é só saudade. Todo o resto é pura lembrança e solidão, além de uma imensa vontade de voltar ao passado, rever novamente todas estas coisas, as pessoas e os amigos de um tempo ido que não volta jamais.
...............
.......
José Cícero

Secretário de Cultura
Aurora-CE.
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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quanto vale uma mentira?

Qual o maior dos mentirosos?
Aquele que ao mentir para todos os demais e todo o resto, termina inapelavelmente por enganar a ele próprio. Vítima do seu próprio invento todo mentiroso é um suicida e, por conta deste seu proceder idiota, um literal defunto.

Um cadáver andante. Um morto-vivo inutilizado deliberadamente para a ética e a moral que rege o mundo. Um imenso vazio de confiança e de verdade. Mas ele sonha a todo custo ser político. Uma liderança... Um singular espécime de sociopatia : uma doença.

Ademais, de tanto fazer uso do expediente espúrio da mentira, de algum modo estranho e bizarro, como por castigo, passa a acreditar naquilo que criou enquanto embuste. Toda a mentira é seu trunfo. Um indolente sofrendo por si mesmo as dores oriundas dos seus pecados inomináveis.

Razão pela qual, diria que todo mentiroso é um moribundo em seus percalços tristes. Uma criatura a precisar da caridade alheia e da extrema-unção do padre. Mas no fundo, digamos ainda que todo e qualquer mentiroso é um plantador de espinhos e de discórdia onde quer que ande. Um desumano covarde e, que por isso mesmo, não pode ser digno sequer do nosso desprezo ou piedade. E o que dirá do nosso voto. Uma pá de cal como um último tiro de misericórdia nas suas pretensões ignominiosas a envergonhar a própria raça.

O mentiroso por definição e por princípio é um babaca. Um ingênuo. Um abestado testando em si mesmo todo o processo da auto-enganação. Um condenado a masmorra das mentiras que ele próprio criou sob o cinismo e a hipocrisia das suas mãos e gestos.

Diante de todos, é ele próprio, a primeira vítima em potencial do seu veneno. Um literal exemplo do fogo-amigo.
O curioso é como ele consegue acreditar nos seus próprios sentimentos, diante do ludibrio e da mentira que tanto cria, consome e inventa todos os dias da sua existência?
Esquecendo de que a mentira como todos o sabem, ‘tem perna curta’.
Mas, convenhamos, todo mentiroso é um otimista. Ele consegue acreditar piamente no engodo e na inverdade que ele próprio edifica sob os olhos dos que acreditam em papel Noel. Mas, digamos que o mentiroso é um gentman. Um guardião de todas as invencionices que existem.

Ele é mau e bonzinho a um só tempo na frente de todos. Sorri com a face e trinca os dentes do coração por dentro. O mentiroso é um artista – ator do seu próprio teatro do absurdo. O canastrão da peça que todos os dias ele próprio escrever e encena por si mesmo. Pobre mentiroso que sofrivelmente todo santo dia terá que matar um leão a fim de sustentar a sua farsa. No entanto, vive a duras penas, das suas ilações baratas.

Admiro e tenho pena desses indivíduos. Peso-morto do planeta e da história humana. Todo mentiroso é um algoz de si mesmo. Finge sorrir por fora e sofre por dentro, diante dos desejos que na fogueira das vaidades mais extremas queima seu âmago com se fosse o próprio fogo dos infernos de Dante Alighieri.

O mentiroso é um fenômeno de público. Um recordista. Um visionário. Um covarde. Um bicho perigoso. A que todos deveriam está protegido deste incauto ilusionista da fauna humana e do espetáculo da vida..
O mentiroso no fundo, não consegue viver em paz com seu espírito. O mentiroso sequer consegue ser leal e ser amigo dele próprio. O mentiroso é uma sombra a nos perseguir pelo mundo adentro, onde que andemos ou nos escondemos dos seus tentáculos.
Finge ser bonito e elegante diante dos espelhos. Finge ser rico e forte. Ser um líder político admirado pelo povo. Um palhaço, um artista da desfaçatez. É candidato a tudo menos a ser leal e autêntico consigo mesmo e com nós outros.

O mentiroso é um criminoso – um crápula, algo que se mantém o tempo todo, na contra-mão da história. A marcha-ré dos fatos. Um fantasma teimoso querendo ser coveiro da verdade e da mansuetude da vida.
Meu Deus, mas como mente e como sofre penosamente um mentiroso! Todo mentiroso é fraco e débil. Todo mentiroso é perigoso e ingênuo. Todo mentiroso merece ser enterrado vivo e quando morto ser comido aos pedaços pelos abutres ou pelos vermes da elite – os outros urubus da sociedade, seus amigos -, cuja mentira é um capital, um investimento das bolsa de valores do capitalismo argentário.

A propósito, se você é o suposto mentiroso deste texto, e a carapuça te cabe por direito; pense daqui em diante no que você inventou recentemente e, à guisa de verdade, mesmo sabendo que é mentira – veja finalmente se você não está de fato acreditando demais neste mentira que criaste para si.
No fim da cena, o pano irá cair e você por fim perceberá que nenhuma mentira consegue durar para sempre. A multidão é uma invenção estética da sua mente pródiga. A platéia que você espera te aplaudir com frenesi não passa de uma grande farsa, uma ficção miraculosa. Uma miragem no deserto da tua ilusão mastodôntica. Veja rápido se avalie por dentro porque o tempo urge...

Afinal de contas, nada na vida é para sempre. Tudo o que nasce ou se cria é para morrer qualquer dia. Mas, democraticamente todo mentiroso tem o direito de mentir o que quiser, mas só para si mesmo.

- Pensou? Refletiu sobre a sua mentira escabrosa mais recente?

Agora, só o que te resta é se enforcar com a tua falsa pompa e prepotência na própria corta da tua liberdade que te resta. Mas antes nos diga:

– quanto valerá uma mentira? Qual seu preço? Protagonista supremo da invencionice de um teatro e uma ópera-bufa...
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José Cícero

Secretário de Cultura

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Palma Para a Flor mais bela - FLORBELA

Florbela transforma sofrimento e solidão em poesia


fumar nu

Fumo


Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,

Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas…
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram… choram…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!…
Florbela Espanca

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um Pouco da nossa própria história...

A Morte de Isaías Arruda

José Cícero e Manoel Severo

A tarde estava cinzenta naquela Aurora pacata e provinciana de 1928. Uma enorme sensação de tranqüilidade cobria os semblantes dos viajantes, assim como o coração e o pensamento da multidão que se aglomerava na pedra da estação. Uma cena comum a todas as cidades interioranas atendidas pelo velho trem da Rede Ferroviária Cearense(RVC). Nuvens cor de chumbo em formação pareciam prenunciar no céu daquela Aurora antiga e calma, algo diferente prestes a ocorrer: uma tragédia.

Naquela tardezinha quase insossa de sábado, dia 4 de agosto de 1928 quando muitos já se esqueciam dos episódios um ano antes relacionado à presença do rei do cangaço na terrinha; o velho aparelho do telégrafo da RVC de novo estava prestes a receber no código morse um telegrama diferente. Um comunicado estranho; digamos que chave, para todos os desdobramentos do acontecimento dramático que se seguira ao fato: “Antonio, algodão hoje sobe!”. Uma missiva quase enigmática considerando que o algodão – o ouro branco d’Aurora faria sempre o sentido contrário, ou seja: descia. E o seu preço no mercado há muito era de todos conhecido.

Coronel Isaias Arruda

Porém, aquela mensagem codificada não seria de todos estranha. Havia um destino e um desiderato certo: surpreender o coronel. Dizia muito mais do que ali estava escrito de modo lacônico... A estação de Aurora estava repleta de gente. Um acontecimento que se tornara comum deste a sua inauguração oito anos antes em 7 de setembro de 1920.

E a cronologia do momento seguinte, provaria depois para todos que era um crime. Um atentado violento à ordem e a vida em nome da vingança e da intolerância. Uma intriga passada à limpo, expressa na força da violência e da ignorância em detrimento da razão e da justiça. Sinais de uma época densamente marcada pelo poder de fogo do coronelismo oligárquico, engendrado pelos mais temíveis e truculentos líderes políticos que o Cariri cearense já experimentou. Um período onde a lei no mais das vezes era a do mais forte e a justiça quase sempre era feita pelas próprias mãos, em geral, dos poderosos.
Naquele sábado, de tarde escura de agosto, a estação de Aurora não tardaria a ser palco de um episódio que marcaria à história do Cariri e do Ceará para sempre, vez que envolveria, aquele que foi certamente o mais famoso e temível chefe político da região: o coronel Isaias Arruda. Filho do lugar, ex-delegado, agora prefeito pela força da vizinha Missão Velha. De quebra, o maior dos coiteiros de Lampião no interior cearense. Um autêntico mantenedor de jagunços e hábil negociador político junto aos grandes da capital.

Estação de Aurora, aqui tombou Isaias Arruda

O relógio do prédio apontava 14h25min quando, finalmente, todos puderam escutar o apito estridente da máquina a ecoar no horizonte. Apenas Sabina entretida demais com o seu café não se deu conta do acontecido. Todos, de repente voltaram suas atenções na direção do corte-grande lá para as bandas do alto da cruz, do sito Frade. O trem da Fortaleza vinha ligeiro beirando o rio Salgado.

Exímios chapeados transportavam com pressa e celeridade grandes caixotes, pacotes e outros fardos de mercadorias. Uns descian para o armazém da RVC outros subiam para os vagões do trem com destino ao Crato. Animais, peças de madeira, artesanato, aguardente, rapadura, oiticica, panelas de barro. O trem acelerava a curiosidade, tanto quanto a economia daquela terra.

Mas de repente o som de um tiro seco ribombeou no ar. Quebrando a normalidade natural daquele acontecimento diário. Em seguida vários outros disparos puderam ser ouvidos no interior do segundo vagão da primeira classe. Talvez sete ou oito no total... Até hoje ninguém sabe ao certo. Um silêncio quase sepulcral se abateu na plataforma por alguns instantes que pareceram eternos. Somente o ronco da locomotiva estacionada defronte a caixa d’água. Em seguida uma correria...
Vozes diziam tratar-se de uma discussão. Três homens saíram atracados e em seguida correram no sentido contrário do vagão. Uma disparada em direção do armazém e depois para o beco da antiga rua que dava para o cemitério. Um quarto homem um tanto elegante, bem tratado, gestos aparentemente finos surgiu do segundo vagão da primeira classe. Vestindo impecavelmente um linho branco, ele pisou de modo esquisito e desaprumado o piso da 'pedra' da estação. Alguns passos apenas e cambaleando fitou a multidão como quem quisesse dizer algo. Não foi possível.
Sangrando e com a mão direita colada ao peito chamava baixinho pelo primo. O linho branco do seu terno agora começava a se tingir de vermelho. Seus sapatos de cor marrom e bem polidos contrastavam com o vermelho escuro do seu próprio sangue formando porças na plataforma. Era o coronel Isaías Arruda, chefe político, prefeito da Missão Velha. Homem afamado em toda região e na capital do estado. Devagar caiu ao chão da plataforma ainda com arma junta ao cinto da calça. Não teve tempo de usá-la.

Grupo de jagunços de Isaias Arruda, sob o comando de Zé Gonçalves

Alguém saindo de dentro do vagão posterior se aproxima dele e forra o chão da pedra com um jornal que lia; edição do dia 3 de agosto daquele ano. Seu braço esquerdo e parte superior do tórax estavam em frangalhos. Ferimentos gravíssimos provocados pelos sete balanços com que fora atingido. O coronel ferido seriamente pronunciava baixinho como que cansado:
- Os irmãos paulinos me acertaram! Mas como é que nem o Viana nem ninguém me avisou que meus inimigos estavam aqui?! Bando de covardes...

E de chofre emendou:
- alguém me chame o farmacêutico! Foram os Paulinos, eles me acertaram... Bando de covardes!
Outros mais ousados e corajosos aos poucos foram se aproximando da vítima que gemia deitada ao solo da pedra sobre as folhas do jornal ‘O Ceará’. Enquanto isso, um pouco afastado da estação José Furtado(Nequinho de Milica) - primo da vítima, saíra em perseguição(ou fugindo) dos irmãos paulinos: Antonio e Francisco, responsáveis pelo atentado.

Levado para a residência de Augusto Jucá um antigo amigo na rua grande, Isaías foi socorrido, inicialmente por um farmacêutico - o único que existia na cidade. No dia seguinte dois médicos vindo de trole pela linha da RVC: Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos atenderam o coronel. Porém, diante das gravidades dos ferimentos não tiveram como salvá-lo. Sendo que no dia 8 de agosto uma quarta-feira às 6h da manhã, quatro dias após ser alvejado, Isaias Arruda faleceu como que por capricho do destino na terra em que nascera.

Casa de Isaias Arruda em Missão Velha

Rumores apontaram ter sido o assassinato uma vingança de Lampião pela traíção do coronel um ano antes, durante a célebre tentativa de envenenamento do bando lampiônico e o histórico cerco de fogo do sítio Ipueiras, propriedade de Arruda em Aurora em cujo local Virgulino se arranchara por diversas vezes. Ocasião em que o rei do cangaço fugia das volantes após o fracasso da invasão de Mossoró, arquitetada sob as estratégias de Massilon Leite e financiada pelo próprio Isaias. Fato que também ficou conhecido como a "traição do coronel Isaías".

Mas o certo, segundo se provaria depois foi que os paulinos vingaram o assassinato do irmão mais velho João, morto numa emboscada no serrote d’Aurora pelos jagunços de Arruda no ano anterior.

Terminava ali de modo trágico, na estação ferroviária de Aurora a verdadeira saga de um dos mais temíveis e respeitados coronéis do Cariri - Isaías Arruda. Assim como sua rixa ferrenha contra os irmãos paulinos da Aurora

Prof. José Cícero.
Escritor, Pesquisador e Poeta.
Secretário de Cultura de Aurora, CE.
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sábado, 2 de julho de 2011

Um Poema para sempre e eternamente...

Leia e medite esta linda poesia de Thiago de Melo. Afinal de contas uma boa poesia é remédio para quase tudo... Além do mais, todo dia é dia de poesia. Sinta este refrigério do mestre Thiago.


PÃO PARA OS QUE VIRÃO

Thiago de Melo
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros. )
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

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