sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Muito além do mundo de Sophia*


De repente, não mais enxerguei a cor dos seus lindos olhos.
Em seguida, lágrimas e vaga-lumes pintaram seu rosto de melancolia
naquele instante eterno de quase morte.
Flores nos lábios,
além de todos os sabores de frutos silvestres em sua língua.
Um beijo apenas...
Eis a despedida que eu não queria.
Desde então, pássaros noturnos passaram a fazer ninhos
em seus cabelos longos e  fartos desde aquele dia.
Um choro trancado no peito.
Depois, um acesso de saudades e de incontidos desejos.
A noite banhou-se de luto quando partira.
E quando se fora, nasceu ali mesmo a madrugada fria.
Logo depois, um silêncio de aço ficou comigo.
Em meio as formigas vorazes.
Como reminiscências antigas
num vai e vem interminável na minha porta.
Enfim, um sussurro.
Um aceno espremido entre seus dedos.
Apenas um beijo.
Nada mais se sonharia.
E eu, depois de tudo aquilo
enchi-me de lembranças.
Quando ela lúbrica, linda e chorosa
em seu último Adeus
dissera outra vez que me amava.
E foi assim que criou asas.
Não sei se passarinho ou se formiga.
Só sei que fora obrigada a ir embora
voando pela madrugada
junta com todos os pássaros da floresta.
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JC/Aurora - CE.
Imagens ilustrativa:  https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images

domingo, 5 de janeiro de 2014

Sonho Engaiolado(Passarinho)*

Tenho prisões em meus olhos,
quer estejam  abertos ou fechados.
Milhões de masmorras  e  gaiolas de ferro
sob  meus antigos sonhos alados.
Há descaminhos vários em meus pés cansados,
além de lembranças dos  ninhos felizes que construi
e que deixei pelos caminhos   
quando fui um dia destes matos retirado.
E agora,  ao redor de mim, tantos  abismos cavados
por todos estes carrascos.
Gentes: bichos insones e  insensíveis.
Horrendos fantasmas se dizendo humanos.
Desde então, por onde quer que eu  ande
tenho comigo,  por todos os lados: Imensos perigos.
Invés de voos libertos com outros pássaros...
Tantas gaiolas de aço  e telhados de vidros.
Céus de chumbo em meus planos.
Utopias e sonhos engaiolados
que há muito carrego  comigo.
Nada mais além disso, me apraz no mundo.
Sou pobre passarinho aprisionado.
Estou condenado pela insensatez dos homens.
Pelo crime do meu cantar, dantes alegre e afinado.
Sou Ìcaro-pássaro preso  em meu desejo alado.
Destino ingrato de quem  um dia ousou voar alto.
Passarinho colorido.
Preso a uma vida chata e sem nenhum sentido 
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José Cícero (inédito.2014)
Aurora – CE.
Foto: JC