Por José Cícero*
Num tempo em que a TV e o cinema eram coisas de ricos foi Chico de Oly(foto)
quem nos contava enredos de filmes, histórias e estórias, contos de fadas,
coisas de assombração e de alma penada dentre outras narrações mirabolantes, heróicas e
fantasmagóricas... Às vezes estorietas que ele mesmo inventava em noites
memoráveis nas esquinas das ruas: estreita onde morava, na calçada dos Correios(onde ele ajudava e se
dizia funcionário perpétuo), na pracinha da Estação entre a Colines, o Cariri Clube o bar de Mirô, ou mesmo
na rua São Francisco anos depois.
Que saudade do velho Chico, nosso herói, quase um dom Quixote – o
cavaleiro andante a lutar contra os moinhos de ventos e nós meninos éramos
todos os seus Sancho Pança buscando a Dulcinéia comum da vida sob o cavalo da
ilusão e da fantasia. Tempos idos quando os meninos ainda eram só meninos. Numa
Missão Velha quase romântica e provinciana que não existe mais.... Vai em paz mestre Chico; nosso eterno guri, bom, puro e inocente
como todos nós. Um exímio contador de verdadeiros realismos fantásticos que nos possibilitava viajar muito além do tempo e do espaço em que nos encontrávamos. Tamanha era a qualidade das suas narrativas verbais.
Eis o passado que não passa. Ele
agora há de está certamente ao lado de Deus a contar suas façanhas mais
incríveis. Narrativas autênticas e inacreditáveis que nos transportavam para
dentro da estória e, por vezes, era ele o
próprio personagem das suas elucubrações e aventuras pra lá de engenhosas. Contos e invenções que nos
fascinavam a ponto de não perdermos uma noite sequer de inesquecíveis contações ruanas.
Diria que tão
mais realistas quanto os filmes daquela época que víamos na TV, trais como o
Homem do fundo do mar e de 6 milhões de dólares, Perdidos no espaço, Ri tim-tim, Super
Homem, Zorro, Batman e Mulher Maravilha, além de Daktário, Tarzan, Túnel do Tempo, Bonanza,
Magayve, inclusive os super heróis das revistinhas em quadrinhos de Tex Willes, Capitão América, Tarzan, W.
Disney ou mesmo os desenhos animados de
Hanna Barbera.
Foi um grande contador realmente criativo, cujas narrativas mexiam positivamente
com a nossa imaginação de sonhadores meninos. Eram
tantas as estórias, algumas particularmente locais em que ele jurava de
pé junto que havia presenciado(e ai daquele
que insinuasse ser mentira) era obrigado a sair do grupo. Narrativas de
estórias como a do Goiabão e do padre sem-cabeça do ginásio paroquial. Ainda, do caminho secreto que só ele sabia... onde
era possível se chegar à Cachoeira em apenas 3 minutos. Como ainda, da grande
serpente encantada que morava na lendária pedra da Glória que ele dizia ter presenciado tantas vezes nas suas
pescarias. Sem esquecer a do pai-da-mata e da caipora que cansava de ver pela
caatinga e que sempre os dominava com Fumo e reza. Sem dúvidas, coisas que ficaram em nós para todo o
sempre na nossa memória afetiva de toda aquela meninada que teve a graça de privar da sua graciosa presença.
Por tudo isso, posso assegurar
que figuras como Chico de Oly não morrem nunca. De modo que, até penso que, talvez cansado
demais da mesmice do mundo e do cansaço da vida, o velho Chico decidiu se encantar de vez, quem
sabe, dentro de uma das suas estórias
mais tocante e inverossímil.
Decerto, na cauda do pavão misterioso ascendeu aos céus a convite de Deus.
Vai
em paz grande Chico! O encantador de sonhos e borboletas. Eterno menino-grande que haveremos de lembra e amar para sempre...
Saudades.
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Prof. José Cícero
Secretário de Cultura e Turismo
Aurora - CE.