No sonho que eu tive ontem
retrocedi ao passado.
Voltei de novo a ser menino,
criança, adolescente...
Moleque travesso e danado,
coberto de mimo e de carinho
por meus familiares.
Livre e solto,
prenhe de saúde, juventude e felicidade.
Eu vivi o melhor daquele tempo.
Jovem destemido.
Correndo as sete freguesias do mundo.
E da vida despreocupado
sem medo do futuro,
vivendo feliz o presente
que eu tinha como que ao alcance
dos meus olhos e dedos.
Porém, sem
saber o que de fato,
era mesmo -
sentir saudade.
Tomei banho de chuva, gritei palhaço.
Fui ao circo por trás da minha casa instalado.
E com a caderneta
de comprar fiado
fui ao bodegueiro, comprar pão de coco,
mariola, um mercado de óleo pajeú.
Banha de porco, azeite canta galo,
caixas de maisena e arroizinha.
Tubo de linha Corrente.
Meio metro de elástico.
Ri-ri pra vestido, saco de estopa,
pavio para o candeeiro.
Pomada Mináncora, cueca zorba, brilhantina,
anágua, corpete, bob de cabelo,
tecido volta ao mundo, gilete, pente fino de tirar piolho.
Canivete de
fazer barba e de raspar
pentelho.Comprimido cibazol, Iodex, pilha do mato, óleo de rízimo,
Ki-suco e cequilho.
Tudo enrolado em papel de embrulho.
E nos pratos
da balança de peso, o cereal bem pesado.
Bebi
refrigerante: Grapete e Crush.
Além de um copo de cajuína são Geraldo.
Sentei no balcão de angico e de pau d’arco do vendeiro.
Olhei o
friteiro cheio de cocada e outros doces caseiros.
Vi os copos de fundo grosso dos bêbados.
Onde todos eles
tomavam suas bicadas de cachaça.
Garrafas e garrafas de aguardente na prateleira.
- Serra grande, madeira de lei, caranguejo,
pitu, zinebra, cortezano,
Mucuripe e Conhaque são João da barra.
Num canto ao lado, vi uma pipa
cheia da branquinha do alambique.
Senti o cheiro de
bacalhau, peixe seco e rapadura preta.
Sardinha coqueiro e oitenta e oito.
Gastei as moedas que eu havia ganhado
no carrossel do parque.
e com bombom de mel,
Drops de hortelã e chiclete Ploc.
Nolacha
'creme craque' fortaleza e Maria.
Perfume e sabonete
Gessy
e Phebo.
Li o colorido dos cartazes de cigarros mansos:
Clássico, Continental
e Hollywood.
Além dos pacotes daquele de fumo forte chamado PC.
Comprei liga para baladeira, pilha de rádio,
espoleta para espingarda.
Remédio Sonrizal, cibalena e
melhoral.
E ainda, pedi muito mais fiado na conta de papai:
Uma barra de sapão pavão, uma quarta de farinha,
sal em pedra e
macarrão.
Querosene jacaré, pedra de isqueiro,
óleo de coco e de pequi.
Anil para lavar roupa, sandália fio de ouro
e um apito para chamar juriti.
Compre ainda, bem
na venda ao lado:
Xarope para gripe, Ana septil,
emplasto sabiá, violeta para ferida de boca e metiolate.
Recebi por isso do vendedor - uma farmacêutico prático
um
almanaque Fontoura de Zeca Tatu.
Depois disso sorvi todos os livros de Lobato.
Eu ainda vi no meu sonho
boneca de pano, brinquedos de barro e de plástico.
Carrinhos de lata, revista em quadrinho,
bola canarinho e dente de leite.
Além das revistas: Tex Willes, Tarzan, Placar, Cruzeiro,
Manchete e capricho.
Também a Ele e Ela que olhávamos escondidos
com medo de apanhar.
E o meu avô dizendo - "Pelos seicentos diabos"
Este menino não leva jeito!...
Fotonovela, álbum de figurinhas, foto de monóculo.
Caixas de velas
São Francisco que nas noites de finados
todos acendiam no cemitério.
e na janelas nos dia de N.Srª das Candeias.
No sonho que eu tive ontem, voltei ao passado.
Tomei banho de rio, fui ao cinema São Luiz da minha cidade,
revi os ciganos, meu colégio
e ri às pampas com as presepadas do palhaço Fuxico.
Joguei bola com meus amigos de infância no campinho da Reffesa.
Esperei de novo o trem da feira do Crato e Juazeiro
na velha estação.
Vi o povo naquela profusão...
Bebi água de coco, Garapa de cana no engenho
e na garapeira da praça com pão sovado.
Soda limonada, guaraná Wilson e Antarctica.
Comi no sítio, Bolo de milho e de puba,
beiju,
tapioca, galinha caipira e alfenim.
Ponche de limão galego, mangusta, chá de capim santo
de marcela, canela e bôdo.
Li os cordéis de Patativa,
Athayde e José Bernardo.
Fiquei com medo do fim do mundo.
Rezei benditos e senti temor dos penitentes
quando
na noite da semana Santa os vi.
Passeei de novo de velocípede, Carro de boi e monareta.
Brinquei de bila pelas calçadas.
pesquei cari na levada e piabas no açude.
Desgraçei meus dentes de menino
chupando pintomba, cajá e tamarinda verdes.
Juntei milhões de tampinhas de refrigerantes:
coca, pepsi, Crush, cajuina e fanta uva.
Figurinhas, castanha, notas, palitos,
“neguinhos” de faroeste e gibi.
E quando, finalmente no lápis
pedir ao bodegueiro que somasse a conta.
Acordei com buzina alta do misto da feira
que passou ali.
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José Cícero
Inédito-2012
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