quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Eu e os Heterônimos...*


UM POEMA APENAS

Sinto em meus braços
todo o peso que tem o português vernáculo.
Texto que guardo em meu cérebro
como escritos antiguíssimos
em palimpsestos.
Poemas rochosos,
sentimentais e filosóficos.
Íntimos segredos,
de Bernardo Soares e Alberto Caeiro.
Enquanto noutro canto,
dialogo e folgo da amizade incrível
de Ricardo Reis, Àlvaro de Campos
e de mim mesmo.
Escrevo o tempo todo, compulsivo,
um diário misterioso.
Como quem está prestes a morrer
no dia seguinte.
Dou-me ao ócio produtivo.
E vejo pelo canto do telhado
o quanto me consome o ‘ópio do povo’.
Tenho em meus dedos
brilhantes e anéis de ouro.
Enquanto neste instante,
todos os poemas e toda prosa
do vate lusitano 
invadem os meus olhos.
Quero um pouco mais de luz
neste pesadelo.
Quer seja de neon ou de candeeiro.
Nesta noite em que estou mergulhado
nos grandiloqüentes livros.
- Puro desassossego,
de um Fernando Pessoa cancioneiro,
boêmio e adormecido em sua tabacaria.
Ou quem sabe às margens do Tejo.
No saudoso rio da sua aldeia.
Depois, em meu juízo de colono praiano.
Sinto fome:  escassez  de sentimentos.
Agreste poeta aventureiro...
Ansiando que todas as palavras do mundo
se elevem  aos píncaros do ato poético.
Vocábulos incríveis.
Ingente desejo dos deuses do Olimpo
em que há muito me fiz solitário;
na esperança de não morrer sozinho.
......................................
José Cícero - in "Miscelânia Poética" Inédito.2012(DR)
Aurora - CE.
Foto ilustrativa: http://filosofiali.blogspot.com.br/
estudoliterario.blogspot.com.b

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