Ainda hoje continua sofrendo no meio
de nós - o Nazareno.
Contudo, ele se mantém calado, como
dantes, profundamente resignado.
E a duras penas vai aos poucos
subindo o íngreme monte
onde será novamente pelo sistema
sacrificado
agora, pelos ditos homens modernos e
sem pecados.
Porém, ele segue firme e determinado
rumando o exício
com seus lentos passos.
Cumprindo à risca o que não estava
escrito.
Penosamente a carregar sobre os
ombros, o madeiro.
Ninguém a chorar sua dor nem os seus
tormentos...
E nós, os racionais puritanos do
mundo continuamos a chicotear
sem piedade e sem motivo o Nazareno.
Porque no fundo, perante este
sacrifício repetitivo e continuado
toda a humanidade se irmana em
conluio, a imitar Pilatos
lavando as mãos no inocente sangue
sagrado.
Rezando alto suas oblações, litanias,
orações e mistérios,
mas nem de longe enxergando,
sequer um pingo da estupidez do
pecado.
E desse modo esquisito, o peso do tal
madeiro do bom Nazareno
há de recair, igualmente, sobre os ombros de nós
mesmos.
Tudo o que nos sobra neste instante
doído, além do remorso e do medo.
É a indulgência que ainda reside nos
discursos floridos e disfarçados,
daqueles que nos dizem ser, os
verdadeiros representantes do velho Cristo.
Sempre quando nos promete, pelo
menos,
para aplacar nossos sofrimentos,
um pouco do perdão alcantilado e já
esquecido...
Além de um enorme pedaço do tal
paraíso.
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José Cícero
Imagem. Internet