A Superfície das Coisas tidas como simples
Não, não sei nada do mundo, tampouco da vida que pouco me
cabe.
Sei apenas das coisas simples.
Estas que a gente carrega
facilmente nos bolsos
como se fossem drops de hortelãs e balas de mel
a ser distribuídos às coleguinhas do colégio.
Sei apenas das coisas simplórias
que ao meu juízo as considero todas
importantes.
Das coisas possíveis que nos alegram e alimentam o
espírito.
E que por isso mesmo, invariavelmente se fazem grandes
na medida que me comovem, emocionam
preenchendo as minhas
necessidades mais desinteressadas.
Destas que a gente sabe de cor e salteado.
Porque as sinto
efetivamente no meu Eu profundo.
E assim, com elas impregnadas nos meus sentimentos,
eu
também me sinto grande e me divirto.
Só por elas eu me permito ser tocado no meu alterego.
Mas, quando não as tenho sofro demasiadamente...
Como alguém que morre quase sempre de saudades,
de ausência
e de vontades.
E logo em seguida ressuscita prenhe de entusiasmo
e de enorme paixão
pela vida.
Não sei de mais nada, além disso.
Não sei do mundo e nem da vida
que não tenham este
ingrediente de satisfação modesta.
De todas as coisas alicerçadas na simplicidade.
Pois bem sei de fato, que nada das coisas
que não são
consideradas simples e necessárias
não me pertencem por direito.
Porque as sinto aqui por dentro em meu íntimo.
Assim como pela força dos meus próprios sentimentos.
Como de resto, nada sei em absoluto,
das coisas estranhas
e grandiosas com ‘cara de elefante branco’,
visto que não me caibo e não me vejo dentro de nenhuma
delas.
Simplesmente porque eles não me pertencem.
O desejo que acaso arde em meu peito não é alcançar o inacessível.
A força da razão
pura não me permite ser escravo
por qualquer motivo.
De modo que, não caibo deveras em qualquer canto.
Tudo o que eu quero é ser feliz
do meu jeito único, torto e subjetivo.
A simplicidade da vida é uma virtude
que me farta suficientemente...
Aquilo que não me
pertence, não existe de fato.
O concreto e a sensibilidade é todo o interessante
que preciso para confortar
meus sentimentos.
Além daquilo que
tenho e sinto por mim mesmo.
Do resto, nada sei. Não me interessa. Não existe.
E tampouco me faz falta.
Penso que viver é justamente isso:
- Tentar cotidianamente ser consciente acerca de si mesmo.
Saber dos limites.
Entendendo o imenso valor das
coisas simples.
E assim, construir passo a passo
uma felicidade possível
como antídoto contra a inveja
e lenitivo contra o sofrimento.
..............
In José Cícero
Inédito-2013
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