segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011



Saudades e outras Memórias gastronômicas
Minhas saudades, além de afetivas também são gastronômicas e visuais.
De tal maneira que as sinto agora como se fosse ontem
Em meio a todas as minhas reminiscências gostosas e atemporais.
Tenho na língua e no céu da boca a sensação inusitada de todos os seus gostos.
Manga verde azeda que saboreie quando criança a me banhar no rio.
Manga jasmim, rosa e espada - doce inigualável que nunca me esqueci do sítio Tunga.
As minhas saudades tem gosto e cheiro das comidas caseiras da terra em que nasci.
Galinha a cabidela, Capote, café torrado no caco, bolo de puba, torresmo e milho assado.
Aroma inesquecível dos banhos de chuvas no meio das ruas e nos terreiros.
Piaba assada na brasa. Cheiro de terra, estrume de gado, flor de marmeleiro,
queijo fresco e doce de leite. Garapa de cana, alfenim.
Mel e tiborna dos antigos engenhos de rapadura que freqüentei.
Minhas saudades tem sabor de guloseimas e frutas frescas:
Banana d’água, babona, pimenta malagueta, azeite de rísimo, de mamona e de pequi.
Mas às vezes minhas lembranças também são amargas como se fosse fel de traíra
a se espalhar por minha vida.
Sumo medicinal de Bobosa, quina-quina e banha de porco rançosa.
Outras vezes também são açúcar: néctar de flor do brejo, mel de abelha, Jandaíra e sucupira.
Limão azedo da terra, mari dura de cozinhar das levadas,
coco-verde, imbu-cajá, feijão andu e cajui.
Minhas saudades são todas as gostosuras caseiras que um dia comi.
Paçoca, chouriço, qualhada, lambu assada, farrofa de pão de milho,
doce de Gergelim e buriti.
Quase sempre agora as minhas saudades me enchem de fome.
Por isso viajo por dentreo do tempo
buscando os sabores das coisas gostosas que não esqueci.
Feijão com pequi e mal-assada, água dormida do pote na Cantareira,
chapéu de couro, broa, pão-de-ló, angu de milho, mingau de carimã.
Manteiga da terra, macaxeira, batata-doce, cocada, carne seca,
tripa de porco torrada, cheiro gostoso de oiti.
Mas, minhas saudades nem sempre são doces como a mangusta, o poncho, o aluá,
e a cajuína do Cariri a se derramar agora em minhas mágoas.
Tampouco os refrigerantes grapette e crush que quando menino eu bebi.
Minhas saudades são saborosas...
Contudo, de vez em quando, as minhas lembranças
têm o mesmo gosto insosso quando dizemos que a “comida é d’água”.
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Autor: José Cícero
Sec. de Cultura
Aurora-CE.
In Estórias que Ouvi Contar(2011)
Fotos: Da Internet
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