terça-feira, 27 de setembro de 2011

Velho Circo - Por José Cícero*

Circo Kelvin recentemente instalado no entorno da antiga estação de Aurora
Olho este velho circo.
Como um monumento esquecido e abandonado
sobre a memórias afetiva dos meus antigos anos.
Circo da minha meninice e dos meus sonhos adolescentes.
Fantasias e aventuras despedaçadas
sobre as tábuas dos seus picadeiros e poleiros antigos.
Utopias que deixei guardadas
sob a sua empanada cheia de rasgos e de tantos buracos.
Eterno retorno de um passado que nunca passa.
Desafio proclítico da memória
contra todos os fantasmas do esquecimento.
Grita de velhos palhaços perna-de-pau...
andando pelas ruas puxando a meninada.
História do abandono...
Circo - repositório de reminiscências e de saudades.
Tempos idos e românticos aqueles....
Circo que nos põe a vida toda no pretérito.
Anos que amei e fui amado.
Momentos inesquecíveis de eternidade.
Gratas recordações
que carrego comigo para sempre
como em flash back.
Eu, assim como ele, envelheci.
Contemplo-o todavia,
com meus olhos rasos de lágrimas
postos no passado.
Este circo agora é um grande biombo
de pano carcomido e flandres enferrujados
colocado como de propósito,
entre o meu presente e o meu futuro.
Olhando este circo
mergulho fundo no passado.
Vejo-me por dentro
assistindo pela milionésima vez
a desbotada quimera do seu repetitivo espetáculo.
Morrendo de lembranças e de saudades
dos anos em que fui feliz na vida
delirando ante seu teatro.
Hoje, no entanto,
prenhe de tristeza contemplo-o calado
em meu silêncio
como quem grita alto
– antigo palhaço!
Querendo a todo custo,
encontrar sorriso na face
dos que são tristes e sofrem.
O circo ainda agora embala a minha alma
com suas relembranças.
O circo é o fio condutor
que me mantêm ligado
tanto à vida quanto ao passado.
Ainda que eu me sinta assaz desiludido
e morto de saudade...
Eu amo este velho circo
de modo desmedido e demasiado.

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(*) José Cícero
Sec. de Cultura
Aurora-CE.
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Foto ilustrativa:
Circo Kelvin em passagem recente pela cidade de Aurora, montado ao lado da antiga estação ferroviária.

domingo, 18 de setembro de 2011

UM POEMA PRA ENCHER OS OLHOS




DESPINDO A MÁGOA

Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, choupos meus,
carregados de sombra e rasos de água.

Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos...
( Eugênio de Andrade)
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Foto: Natália Vodianova

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SERTÃO DE ABELHAS - Por José Cícero



ABELHAS SERTANEJAS E OUTRAS SAUDADES...

Lá na beira do riacho do meio
bem na grota que descamba pro poço fundo
uma grande catingueira velha
carcomida e furada bem no tronco
onde mora uma antiga Mandasaia.
Cheia de mel doce com cheiro de imburana
abelha mansa e outra italiana enfezada.
naquela mata existe ainda Uruçu,
numa enorme braúna alta e ocada
repleta de mel de Manduri e Jandaíra.
E na sombra fresca da nossa casa
também abelha de Canudo mansa
e um enxame de Jati sob a latada.
E Lá na roça do velho Jiqui há um Inchu
arranchado nas galhas do pé de oiti
abelha Mosquito, Moça Branca, Arapuá
Jandaíra, Sanharol e Inchuí.
existe ainda uma africana braba
morando num tronco de um gameleira velha.
e num oco fundo do Inharé
uma verdadeira fábrica de cera:
Sanharol trabalhando a vida inteira
a fabricar a cola natural dessa ribeira.
E bem na copa do frondoso pé de juá
se ver a morada de uma cupira.
Subindo mais pra riba da fazenda
Há uma Ingazeira,
logo depois das ribanceiras
na cabeça do morão servindo de estaca
Um grande cupinzeiro,
onde há anos habita uma Cupira braba.
Formigas de roça, besouros mangangá e abelhas
Casa de taipa por trás das oiticicas
Marimbondo, cavalo do cão, mutuca da mata,
Tudo o mais é pura saudade
que tenho da natureza do sertão
que ora relembro e penso com emoção
sentado sob as moitas de jurema, unha de gato, avelós
ou na sombra aprazível e fresca
do Joazeiro e da Aroeira
que ainda agora adornam a beira da antiga estrada.
.....................................
José Cícero
Secretário de Cultura
Prof. de Biologia
Pesquisador do Cangaço
Aurora-CE.

Fotos: http://urucueabelhasnativas.blogspot.com

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