terça-feira, 21 de novembro de 2017

DULCINÉIA e o pecado de não ser feliz


O pai a dizia sempre: - Menina é cedo!
Ela resmungava: Mas meu pai a vida me parece tão tarde...
E assim continuava a rolar as contas do rosários entre os seus dedos.
Tudo ali era lento. Os dias, a vida, o tempo, as noites e o sofrimento...
Até o dia exato em que ela desapareceu da vila a cavalo.
Ganhara o oco do mundo. Foi-se embora como sonhara sempre
sobre a lua da sela com o novo padre.
Dizem que logo após a santa missa da manhã de sábado.
Seguiram pelos caminhos íngremes e lamacentos da  ribeira. 
Há até que ainda hoje diga que o doido Oliveira
os viram pelados, como vieram ao mundo, a se banharem contentes 
nas águas pardas do riacho da castanheira.
- Sua bença minha mãe! 
Inté mais meu pai!
Rogo ao sando do alto
que mal não me queiram... 
Porque ser feliz na vida não constitui pecado.
E o pai continuou dizendo: Ainda é tarde!
Enquanto o sacristão responde:
Isso não é segredo.
Sempre fica tarde aos que decidem,
por preguiça ou medo
viver tudo na vida só pela metade.
_____
José Cícero
www.blogdaaurorajc.blogspot.com
ilustração: da Internet