domingo, 22 de dezembro de 2013

Enquanto isso, nos pântanos do mundo - Por José Cícero*

Do fundo dos pântanos mais fétidos e perigosos todos os silêncios do mundo agora estão gritando alto, deseducadamente  em desespero, como a pedirem socorro aos homens cansados, vestidos como os defuntos em seus ternos pretos.
Mas todos eles estão cegos, moucos e ocupados com seus negócios espúrios. Entretidos demais em seus conluios vergonhosos. Além de mancomunados com os assassinos em seus crimes mais horrendos. 
Homens feios, ridículos e tenebrosos todos condenados às masmorras da consciência de si mesmos. Seres imperfeitos e vaidosos, todos engomados  em seus paletós de vidro. Ambos preocupados em sua ânsia louca de juntar dinheiro a qualquer custo, como a qualquer preço.
Diante de tudo isso, mergulham suas vidas  no lamaçal imundo dos pântanos da miséria humana. Nenhum deles, tem mais conserto... Posto que estão condenados.
Crime e castigo agora são seus destinos. Golpes e tramoias são o tempo todo, seus afazeres e passatempo prediletos. No fim das contas, são todos tristes. Pobres coitados com os olhos fixos em suas montanhas de dinheiro podre. Eles não não vivem de verdade. São todos prisioneiros dentro de si mesmos e em seus cárceres privados. Compulsivos medrosos  teimando em resistir e sobreviver  por entre os bichos. Em seus pesadelos têm tanto medo de serem traídos ou roubados pelos seus amigos e entes queridos...
E a lama dos pântanos do mundo encharcam seus olhos. Seus cérebros e seus corpos malhados. Além de tudo,  há milhões de micróbios e vermes passeando freneticamente por entre seus dedos cheios de anéis de ouro. Mas eles não se dão conta deste fato. Apenas, estão tristonhos, porque descobriram que ainda não conseguem comer dinheiro.
De tão acostumados com a lama fétida dos pântanos onde vivem, os homens agora  pretendem se mudar para os esgotos. Pensam ficar mais mais ricos e mais seguros.
Planejam se tornar sócios,  parceiros e amigos íntimos dos ratos. Porém, dizem à boca miúda, que a ratazana não está gostando nem um pouco deste  possível acordo. Visto que nenhum  homem do pântano lhes são confiável o bastante.
Conquanto, após este fato, há quem diga ainda que todos os ratos do mundo estão a correr perigo.
Desde então, todo o resto da fauna humana passou a confundir, invariavelmente, os ratos com os homens e os homens com os ratos. 
É visível, portanto, que os ratos dos esgotos mundanos desaprovaram terminantemente tal comparativo. 
De sorte que tal acordo pode está comprometido, não pela vontade venal dos homens, mas pela recusa inegociável dos ratos.
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José Cícero
Aurora - CE.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O Natal e o Menino...*


No meio da noite tão triste
há um menino...
Sozinho na maior solidão que existe.
Um ser pequenino.
Relegado ao  mais completo  abandono.
Há muito não dorme, o tal menino.
Mesmo sofrendo ao relento de frio e de fome
Ele faz prece aos santos. 
E a humana gente, indiferente,
finge não saber sequer seu nome.
É Natal.   
Tudo está escuro.
Há sons de sinos por todo canto.
Luzes coloridas, presentes 
e cheiro de comida quente.
Todos cantam: “noite feliz, noite feliz...”
 ceia farta  
e festa vasta entre os homens.
Enquanto isso,  o pobre menino
chora baixinho de frio e fome.
Mas não reclama.
Está sem sono, o pequenino...
Não sabem os indiferentes que se fartam
que o tal menino  triste
entregue ao abandono da vida
não é, senão, o próprio Cristo
que na noite de Natal insone,
disfarçado de criança,
veio ao mundo como uma chama.
Para testar de novo 
o solidarismo,  a tolerância
e a caridade dos homens.
Como igualmente,
a fé, o otimismo e a esperança humana.
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José Cícero
Aurora - CE. 
Fotos ilustrativa da Internet

sábado, 7 de dezembro de 2013

Meu mundo, minha vida. Meu não-lugar*

Cada lugar que eu passo e vejo pela primeira vez na vida é um universo estranho e maravilhoso, além de carregado de múltiplos significados e de outros sentimentos inexplicáveis. Coisas que só posso dividir comigo  na mais pura solidão do meu Eu profundo.


Algo que, ao tempo em que me enche de curiosidades e de estranhamento, também me faz sentir saudades das coisas que sequer presenciei, mas as imagino intimamente no meu âmago como quem as tivessem vivenciados noutros tempos, no calor da idade, muito mais que os  que por ali nasceram.
Oh! Como é cruel sentir-se como quem tivesse  todas as idades, as dores, as saudades e os sentimentos do mundo. Mas esta é a vida que levo e que tenho  sobre meus ombros cansados de tantos sonhos, cujos vazios tento à pulso, preenchê-los com estas lembranças que eu não entendo porque as sinto assim, demasiadamente.
Românticas saudades a escorrer entre os meus dedos.  Vontades de tê-las vivido em seus momentos. Em todos os passados possíveis em meio as tragédias, as vitórias, as alegrias e as aventuras humanas nos seus maiores instantes de felicidades. Reminiscências e desejos que me atormentam a onde quer que eu vá. Utopias dos poetas insensatos como igualmente de todos os que não têm motivos algum para acreditar em nada disso. Ânsia de conhecimento e de vivências imortais. Medo e mistério do desconhecido.
Mas eis que tudo o que é desconhecido me provoca e me comove ao ponto de eu às vezes nem saber  de que lugar eu possa ter vindo. O mundo é o meu não-lugar. Sou de outras vidas. De múltiplas moradas... Acho que morri tantas vezes que foram preciso. Renasci quando foi possível e necessário. Sou filho do tempo. Razão porque tenho em mim todas as idades do mundo.
Tudo me comove e mexe com meus sentimentos sempre quando me deparo como os espaços desconhecidos. Paisagens, histórias e figuras que povoam de algum modo a memória do meu esquecimento. Assim como tudo me enche de vontades de viajar no túnel do tempo. De retroceder apenas para puder testemunhar como tudo aquilo aconteceu no seu pretérito.  
Incrível sensação pela qual sofro calado. Visto que não é tão fácil ser um sujeito diferente  movido pela sensibilidade,assim como  pela necessidade de ser atemporal. De não aceitar e, tampouco compreender com a infinda naturalidade dos mortais a superficialidade fria e morta das coisas em sua aparente normalidade.
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(*) José Cícero
Aurora - CE.

sábado, 23 de novembro de 2013

VIDA: Dois Pesos e Duas Medidas*

Dois pesos e duas medidas.
Eis a dinâmica louca.
Regra, sistemática e etiqueta
da nossa própria vida,
na sua norma precisa e fria,
medíocre e vez por outra,
um tanto quanto  escrota.

De pesos e medidas
são também as pessoas.
Assim como a vida.
Às vezes à toa,
e  um tanto desmedida.
- Dores vividas.
Vida construída
pouco a pouco
todos os dias
à sangue e fogo.
Nada mais que o valha
nem ninguém que o diga.
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(*) José Cícero
Aurora - CE.
Foto> http://2.bp.blogspot.com

domingo, 17 de novembro de 2013

Um Canto para Dil André*


Dizem  que Ele morreu no dia da proclamação*
Mas ele é irmão e é espírita...
E na vida eterna acredita.
Ele apenas partira
sabendo que a vida
é puro estágio de continuação.

Ele partira...
continuou sua estrada
cumprindo sua missão.
Ele não morreu
como alguns ainda pensam.
Despertou do sono da vida.
Ele é irmão e é espírita.
Por isso acredita.
Ele é artista
no mais puro estado de depuração.

Agora ele está em paz.
Prosseguiu sua viagem.
E diante de Deus se encontra.
Artesão da boa-nova,
sua arte nos conforta...
Dil André está com o Pai.
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(*) José Cícero
Aurora - CE.
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Homenagem ao artesão/artista Dil André
desencarnado em Aurora no último dia 15 de nov. de 2013
Foto: Dil André (arquivo Secult-2010)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Timbaúba*



Sê simples e modesta
como esta  árvore bela.
Figura altiva e  centenária.
Símbolo da vida em que se encerra.
Espécime holística da matéria.
Estética para nossas palmas.
Árvore no chão  fincada.
Deusa da vida
que no esplendor se expressa.
Sinônimo de toda beleza
como a nos mostrar
que a calma
é  janela  iluminada da natureza.
Além de refrigério e lenitivo
para a paz e a felicidade
- como riquezas
da nossa  própria alma.
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JC - Aurora-CE/2013
Foto: Jorge Remígio