quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

EITA VIDA MEU DEUS!...



Um prego a furar meu pé 
por toda a existência.
Um ar tristonho
de quem sofreu toda vivência.
Um caminho íngreme.
Um jeito meigo e estúpido
de se ver no outro.
Um estrepe. 
Um cisco no olho.
Um afiado espinho.
Um apertar no peito.
Uma andança infinda
pelas veredas das caatingas.
Uma sensação de agouro.
Uma alpercata gasta de couro,
sem cabresto deixando ver os calos
e o bicho-de-pé por entre os dedos.
Léguas tiranas de toda a minha  vida.
Tantos anos.
Tantos solitários  caminhos
que não vão dá em nada.
Um estouro de boiada
por entre os garranchos das desventuras.
Ninhos de passarinhos mortos.
Amores teimosos.
Alimentando o espírito
dos loucos aventureiros.
Passos cansados e decididos 
de guerrilheiros,
pisando firme sobre meus sonhos.
Uma cusparada de fumo de cachimbo.
Uma marcha sertaneja.
Uma espingarda enferrujada.
Um choro de despedida.
Um cachorro esquálido latindo alto
eternamente em meus ouvidos.
Bandos de urubus 
morando para sempre
em minha mente.
Uma topada.
Um passamento.
Um amanhecer sonolento.
Um preguiçoso gemido.
Um gozo alucinado de vencido.
Um gesto de otimismo.
Uma reza à noitinha.
Uma ladainha.
Uma oração de beato.
Um ato falho.
Um sacrifício.
Um soluço baixinho.
Um misto de alegria e choro.
Uma gargalhada.
Um rosário bento por padre Cícero
pendurado no pescoço.
Um riso torto.
Uma caminhada pela vida.
Uma desdita infinita.
Uma lida ingrata.
Uma alma penada.
Uma despedida.
Uma lata d’água do riacho.
Uma cacimba funda.
Uma cova rasa de anjo, 
de andu e de milho.
Uma neblina fina.
Um cheiro de sexo e de orvalho.
Uma égua no cio.
Uma cadela prenha.
Uma donzela acesa.
Uma assombração dos matos.
Uma caipora.
Uma promessa ao divino.
Um viver sem graça.
Uma teimosia dos seiscentos diabos.
uma  louca vontade.
Uma utopia desvairada.
Um bezerro magro e uma vaca.
Uma cancela coberta de rama.
Uma levada cheia de piaba.
Uma labuta árdua.
E mais nada.
Eita vida meu Deus!...
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Por José Cícero (Inédito/2013)
Aurora - CE.
Foto: JC
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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Rio Salgado: Uma eterna promessa renovada para os sertanejos...

Por José Cícero
Confira a série de fotos do rio Salgado em Aurora em 17.02.13

O rio Salgado,  principal manancial da bacia hidrográfica do Cariri que, inclusive banha cerca de 42 km do território aurorense já começa a ficar diferente e mais robusto como nos velhos tempos de grandes invernadas com a chegada das primeiras águas dos seus riachos e afluentes. 
Ao receber suas primeiras águas( como nesta manhã de domingo) o Salgado também se enche de promessas e de farturas, visto que os seus pescadores ribeirinhos já começam a lançar suas redes e anzóis na busca de encontrar  seus preciosos peixes como se fossem o  alimento sagrado das suas próprias esperanças... O rio Salgado é, por assim dizer, um  milagre eterno prenhe de bonança e fé. Uma promessa sempre renovada dos céus para com os homens...
Quadro do Salgado(JC)
Cumpre assinalar que suas principais fontes de água e, que compõem a chamada bacia do Salgado, são os riachos da Jitirana, Pau Branco, Tipi, dos Cavalos, do Juiz, Olho d’Água, Jenipapeiro I e do Jenipapeiro de Cima(já na divisa com o município de Missão Velha). Outra fonte de água bastante considerável  é o Açúde da Cachoeira a cerca de 12 Km da sede com capacidade de acumulação de aproximadamente 34,5 milhões de metros cúbicos de água que, inclusive, é responsável pelo abastecimento da cidade..
As cheias do Salgado, sempre foram um grande acontecimento social. Um verdadeiro espetáculo, posto que  costumam atrair muita gente para a entrada da cidade(beira frsca) onde está localizada a grande ponte. 
Todos querem presenciar a chegada das primeiras enxurradas, ou seja, contemplar de perto, a força das suas águas descendo em disparada em busca do Jaguaribe e do Castanhão, rompendo barreiras e ribanceiras. 
É o Salgado, indo ao encontra da sua sina e do seu destino. Como um Prometeu dos sertões, cumprindo a escrita no seu antigo sonho de querer virar mar. 
De modo que, constitui  um autêntico lenitivo para os que quase pelo ano inteiro  só vêem aridez e seca pelas caatingas adentro, e assim desejam a partir de agora presenciar este momento mágico das 'cheias'. Um imenso espetáculo da vida que se renova, proporcionado pelas grandes águas a descer das cabeceiras do Araripe das bandas da Batateira, como se fosse sementes plantadas pelo Cariri inteiro.
Um verdadeiro colírio natural  para os olhos  de todos os sertanejos de Aurora e do região como um todo. Um puro milagre da multiplicação é agora o nosso Salgado - o rio mais doce do mundo...
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(*) Prof. José Cícero
Secretário de Cultura e Turismo
Aurora-CE.

Fotos: JC Blog da Secult
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