segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

NADA QUE SE SAIBA...


Com quantos vaga-lumes será possível
tecer uma noite clara?
Quem sabe, uma lua e meia.
Minguante ou cheia.
Uma rasga-mortalha desgarrada.
Uma noite inteira escura ou enluarada.
Uma coruja solitária.
Uma chuva fina se precipitando numa poça d’água
Quem sabe, uma sombra dupla de gente abraçada
namorando ou se espreguiçando ao longo da antiga estrada.
Uma silhueta de mulher pelada.
Uma chama acesa. Uma ardente fogueira.
Uma viva brasa.
Uma vontade danada.
Ou ainda quem sabe,
tudo o mais que acaso o valha.

Negrume e vaga-lumes.
Profunda escuridão sem uma viva alma.
Nada mais que se diga
ou que se saiba.
Uma quentura.
Uma conversa despudorada.
Um canto estridente de cigarra.
Uma noite escura e solitária.
Um medo de assombração e alma penada.
Uma aventura extrema.
Um arranhão por espinho de jurema braba.
Um frio na barriga.
Um arrepio de pele.
Uma carícia de mulher amada.
Uma utopia desvairada.
Uma insensatez das trevas.
Uma idéia vaga.
Vaga-lumes imitando estrelas,
sonhos alados de pássaros.
Noite clara, bichos noturnos.
Desejos e mistérios
e mais nada.
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Em Pássaro...

Tu se inflamas
quando o toque suave
logo se transforma em chamas.
E quando me chamas
em flor se aflora,
apagando a brasa

Com borboletas nos olhos
e colibris entre os lábios.
Depois desta mágica...
dizes baixinho
que me amas
e em seguida  voa
junto com a passarada.

Depois disso,
todo o resto é nada.
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O QUE DIZER SOBRE O ANO QUE SE FINDA?

Resta pouco para que este ano se acabe. Com ele se vão também todos os instantes que um dia imaginamos eternos. Assim como os momentos em que fomos  felizes ou que tristemente sofremos além da conta. 
Vão-se também as oportunidades que aproveitamos ou mesmo  que  desperdiçamos pela incoerência das nossas ações e a ausências das nossas  atitudes necessárias.
Vão-se com o ano que se finda, as coisas que fizemos, adiamos ou que deixamos de fazê-las por medo de apostarmos no novo. E tudo o mais que não acreditamos quando foi preciso. As oportunidades que tivemos para sermos autênticos e verdadeiros ao ponto de acreditar na realização  dos  nossos sonhos. 
Quem sabe, a última ocasião em que poderíamos nos permitir  sermos felizes efetivamente. E que por isso, ainda não fomos.
Resta pouco para que o ano vá embora....Quando em cada um de nós ficará apenas, além do vazio de tudo o que poderíamos ter sidos, a sensação ingrata de mais uma despedida, além das lembranças gratas e amargas. Porque todo o resto agora será só saudade... 
Quem sabe, o apagar da velha chama que ardia em nossos corações, mas que não tivemos a capacidade devida para conservá-la acessa dentro de nós.
Mas assim é que é a vida:  Um acontecimentos marcado por tantas idas e tantas vindas. Para a qual precisamos reaprender a cada dia a sermos felizes como melhor nos convêm diante da liberdade que nos anima a viver os dias vindouros. Ou ainda quem sabe, a suportar todas as nossas dores ante a esperança de uma felicidade tantas vezes  adiada e prometida.
O ano se vai, porém a vida continua para os que ficam; a exigir de cada  um, o seu quinhão de suor, paciência e sacrifício. Uma estrada árdua e longa sempre pronta para o caminhar dos que não desistem e, que por isso mesmo, nunca se dão por satisfeitos diante da tentação das coisas fáceis. Os que não se deixaram encantar pelo brilho ilusório dos confetes, nem das conveniências estanques e resignadas.  
Por fim, um belo convite direcionado ao recomeço dos que não fogem à luta...
O ano está prestes a findar. Conosco há de ficar entretanto, a renovação de todas as promessas alicerçadas na esperança de um tempo novo. Como igualmente, a perspectiva de um amanhã radiante a nos encher de grandes motivações de fé, coragem e alegria... como o sol de uma Aurora eterna a iluminar os dias da gente.
Que o ano se vá e que com ele nos venha um ano novo de esperança  e fé; repleto de uma felicidade mais que possível e coletiva.
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JC - Aurora/CE.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Ícaro Menino*

Quando eu era menino, eu tinha um sonho alado.
Queria ser passarinho:
- Tiziu ligeiro, Gola preto, gavião do mato.
Urubu-rei, ben-te-vi, Carcará danado.
Minha vontade era puder voar mais alto 
que o Araripe que tinha ao meu lado.
Queria ser passarinho...
sentir as nuvem entre meus dedos.
Saber se pareciam mesmo 
com o algodão do roçado.
Tudo o que eu queria 
era ter asas e voar,
imitar passarinho.
E ainda, puder enxergar de cima
onde o mundo todo ia dá.
Queria subir ao céu  olhar as coisas do alto.
Perguntar para Deus 
se acaso com ele eu poderia ficar.
Se me permitia nunca mais voltar a ser gente
E se me deixaria em passarinho para sempre 
eu me transformar.
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foto ilustrativa: 
http://www.mundoleitura.com.br/wp-content/uploads/2012/05/icaro21.jpg

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

QUANDO TU FORES EMBORA*

Nem sei mais o que te direi agora
quando senti que nada mais nos espera.
Por isso eu juro:
- Estou vazio das palavras
que  só por conta delas,
tu tanto me amaras
em verdades, utopias e quimeras.
Nada mais me resta.
Foi se embora de mim a ave-inspiração
que dantes animava  a minha condição de poeta.
E se agora, eu não te digo nada.
Nada mais me resta,
Nada mais nos espera
quando, enfim, chegar a hora
de tu ires embora.
Nada mais presta.
Nada me resta,
além deste silêncio prenhe de lembranças
que desde então me habita,
somado à solidão, que como uma fera,
agora me mata, me devora,
me consome e depois vomita.
Sou barco do tempo à deriva.
desiludido poeta
às margens de mim mesmo inerte.
Cansado do mundo
e desta vida
sem sentido e chata
tão sem graça e tão deserta.
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JC - Aurora/CE