JC em Prosa e Verso: Uma Flor para Millôr

sexta-feira, 30 de março de 2012

Uma Flor para Millôr - Por José Cícero

Cartunista e escritor Millôr Fernandes que faleceu terça-feira dia 27 no RJ.

Está mais triste o humor.
As tiradas mágicas e inteligentes do bom cartum.
Diante da inesperada partida
do velho dramaturgo e cartunista,
Escritor e jornalista;
que quisera acompanhar Chico.
- o nosso adorável Millôr.

Está mais pobre a piada.
A crítica ácida, inventiva, sociopolítica
e literária.
A veia frasista do mágico poeta.
Toda a charge do Brasil chorou.
Com a partida antecipada
do grande cartunista Millôr.

Nada mais será como dantes.
Posto que está triste o cartum.
Com o encantamento do escritor.
- Uma flor para Millôr Fernandes.
................................

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PLURAL

Quero tomar banho no mar dos teus olhos fundos.
Nadar sem medo no oceano calmo dos teus pensamentos
mais longínquos e profundos.
Depois de tudo, me aquecer sob o sol dos teus beijos
e no calor tropical do teu corpo moreno.
Sonhar teus sonhos. Afagar teus cabelos e depois me embaraçar nos teus sentimentos mais sentidos.
Andar sem rumo léguas tiranas por todos os teus caminhos
e assim me perder de vez
e depois, logo me encontrar acerca de mim mesmo.
Reivindicar teus beijos com fome de carinho
e temor do silêncio e da solidão.
Quero por fim, contigo todo o impossível do mundo.
Depois eternizar dentro de mim o ato de ser feliz
a cada novo instante, segundo a segundo.
Dá brilho a minha vida
e nunca mais me arrepender das coisas que escolhi.
Desejo viajar contigo ao infinito
singrar as águas turvas e límpidas dos sonhos
e das utopias mais incríveis.
Amar demasiadamente a vida
como ninguém mais no mundo foi capaz de amar.
Seguir em frente. Pluralizar o gesto de compartilhar.
E depois de tudo isso,
provar enfim, para mim mesmo que de fato existo
como existir sempre será preciso.
E assim me sentir feliz como nunca.
Apenas isso.

O ANJO TORTO*

Lá vem um anjo torto.
Um indivíduo estranho
um tanto quanto palhaço
e pra lá de esquisito e escroto.
Mas o povo e os meninos,
ocupados demais em seus estorvos
não estão nem aí para o anjo
em sua aparente visão de louco.
Contudo, o que se ver de longe
nem sempre é o que de fato está posto.
E assim, o tal anjo torto
com o seu jeitão hilário e ridículo
carrega como que tatuado no rosto
como no seu próprio corpo
um longo texto em aramaico.
Lusófono traduzido pelo fantástico.
Além de milhões de besouros,
formigas, vaga-lumes, pássaros,
pombos e gafanhotos.
Promessas de futuro nas mãos,
milho nos bolsos, flores nos olhos
e rosários de contas nos dedos.
Mesmo ranzinza, o anjo torto,
recita de cor baixinho pelos caminhos
poemas extensos e maravilhosos
de Manoel de Barros, Lispector, Bandeira,
Cecília, Vinícius e Lêdo Ivo.
E assim segue plantando por onde anda
férteis sementes de mágicos livros
de Machado, Rachel, Lira Neto e Mia Couto.
E, depois de tudo isso
na maçã do rosto do anjo torto
vez por outra, nasce enfim, um sorriso
em meio a tantos livros,
romances, cordéis, poemas e outras estórias
afim de acabar de vez com as mesmices da vida,
o tédio e a solidão do mundo.
.........................
(*) José Cícero
Aurora 2014
--------------

LEMBRANÇAS...

Passeia a vida inteira
como a passear em noturnos pelos guetos.
Pelas ruas e pelos becos escuros do mundo.
Não me dei por mim
quando vaguei sob às sombras
dos muros e das vielas de mim mesmo.
Nunca me dei conta dos meus erros
que foram tantos...
Embriaguei-me com meus equívocos.
Bebi meus enganos em infindas aventuras.
Agora só me resta o escuro
dos meus olhos turvos de angústias e melancolias.
Tudo o que me resta agora é vazio.
Silêncio e solidão por toda a vida.
Sigo assim mesmo meu caminho
confabulando os mistérios e os segredos
que ainda me restam com meus fantasmas.
Tremendo de frio e de saudade.
Morrendo de medo
de que tudo possa me ocorrer de novo.
No mais tudo o que me restou é nada.
Tudo o mais é silêncio...
Mais nada.
E eu nem sei ao certo porque caminho
à toa e a ermo.
Como alguém que perdeu o rumo
e que, de tão sozinho
nunca sai de perto da companhia de si mesmo.
-----------
JC - 2014

EMBARGO INFRINGENTE ( Que Diabo é Isso?)

Embargo Infringente!
Ora bolas, que diabo é isso?
Alguma marca de refrigerante
imposta pela Globo a garganta
insalubre da nossa boa gente?
Coisa do Obama inventado às pressas
para à velha república de banana?
Quem sabe neologismo da elite
pousando nua como sempre,
com ares de européia ou norteamericana?
Embargo infringente!
Pelos seiscentos diabos
alguém me diga pelo amor de Deus
que porra é isso.
Alguém me convença
que que não é tramoia ou invencionice
de uma burguesia esperta e doente.
Coisa do império da mentira
e dos elefantes?
Coca-cola com açúcar e ratazana
ou quem sabe mais um eufemismo
para quem nos rouba não mais às escuras.
Mas à luz do dia e às pampas.
Embargo infringente!
Alguém me diga, antes que eu me canse
e me cale para sempre.
Embargo infringente!
Um cadáver putrefato,
defunto exumado às pressas
para apagar os rastros do crime.
Um engodo jurídico.
um álibi sem sentido.
Um despautério absurdo.
Uma piada de mau gosto.
Tudo para continuar.
Deixar como estar.
Ou o que será pior:
recomeçar de novo
Será?
Alguém me diga por favor.
...........
JC - Inedito 2013

A LÓGICA

Desde muito e até agora
a lógica dos fatos
é rude,
é boba,
tosca e ilógica.
Visto que,
o que de fato está posto
no tabuleiro sujo das amostras.
Como de resto,
é tosco,
é triste,
é bosta.
Pura mentira implícita
e assaz vergonhosa
sempre presente
nos discursos cínicos
dos políticos
e das elites hipócritas.
Assim como, na extensão
de toda vergonha exposta
na cara lisa
e na boca aberta
de uma burguesia sórdida.
De sorte, que a lógica dos fatos
desde muito e até agora...
É outra.
É boba.
É morta.
Esforços de uma casta
corrupta e perigosa.
Querendo à pulso
como a qualquer custo
ser nobre,
ter escravo
e ser forte.
Posto que
não pode haver lógica
numa história cega,
óbvia,
previsível,
ilógica e mentirosa.
Em síntese:
Toda lógica agora
é balela pródiga.
Pura falácia inútil.
Droga psicotrópica
de uma realidade
feia,
antrópica
e morta.
--------------
José Cícero
In 'Minhas Metáforas Prediletas'
inédito 2013.
Aurora-CE.

POEMA PARA SER FELIZ...

Deste tal amor,
confesso por fim, que nem sei
absolutamente nada.
E da paixão que senti uma vez.
Sofri demasiadamente...
Morri todas as vezes que tentei.
Sofri, morri, mas insisti.
Mesmo assim prossegui.
Razão porque ressuscitei
Mas jamais desisti
do meu antigo sonho
de um dia a qualquer preço
ser feliz.
Porque acima de tudo,
eu acreditei.
O amor que tive, eu perdi.
Mesmo assim, conservei
a paixão que senti.
Mas, se achas mesmo que não sou feliz.
Dai-me teu braço amigo
ou ainda quem sabe:
Teus beijos.
Teus abraços.
Teus carinhos.
Teus afagos.
E, depois de tudo,
dizes baixinho ao meu ouvido.
Que eu não sei de nada.
E que no amor, sou apenas
um eterno e mero aprendiz.
E eu, simplesmente te aceito.
Dizendo que te quero.
Gritando bem alto aos quatro ventos
que te amo,
e que só por causa disso
eu sou feliz.
----------------
José Cícero:
In "Versos e Versões da mi'alma"(Inédito-2013)
Aurora - CE.

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Livro-Presente...

Dou-te de presente este livro.
Um tanto amassado.
- Lêdo Ivo.
Coisas incríveis e dolentes.
Leminiski, Jorge Amado e Patativa.
Pura poesia.
Fértil e grandiloquente literatura
do sol poente
à madrugada fria.

Dou-te este livro de presente.
Sol da vida.
Poemas edificantes,
canções adolescentes.
Da Costa e Silva, Neruda e Coralina.
E, se ainda achaste pouca coisa.
Insistirei na poesia bela
de Ignácio, Rubem Braga,
Eça, Bandeira, Augusto,
Autran Dourado e Florbela.
-------------------------------------
JC - 2013

Quem Sabe...

Ainda que tudo o mais me falte.
Terei ao meu dispor no último instante.
Uma lucidez quem sabe errante.
Um poema grandiloquente.
Não obstante, o deslumbre,
o medo da morte
o sonho da eternidade
e o milagre
como a me dizer: Levante!
(JC)
............................
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PROMESSAS AOS SANTOS

Fogo de brasa.
Trempes incandescentes no chão.
Panela de barro
cozinhando pedras.
Fome e sede no sertão.
Seca agreste.
‘Cachorra da mulesta’ e fome.
Terra a pedir água aos homens
e estes aos céus.
Sonhos de bonança.
Medo,morte, peste e assombração...
Fé, crendices, sonho e promessas.
Nossa Senhora da Conceição.

Casa de taipa.
Velame das cercas.
Secura nos olhos e no coração.
Mutuca, caçote e preá...
Farinha de mucunã.
Fruto de oiti, mari e jatobá.
Árvores secas derrubadas nas matas
Fornalha, coivara e carvão.
Fogueira eternamente acesa
Moita braba de urtiga e cansanção.
Promessas e utopias consagradas
ao dia de São Sebastião.

Longas queimadas.
Lonjuras do sertão.
Vastas estradas,
Léguas tiranas da vida.
Sonhos antigos de chuva,
relâmpagos e trovoadas.
Multidão de desdita.
Heróica saga.
esperanças de águas...
Festa das invernadas.
Frei Damião, padre Ciço
Santo Antonio de Pádua
e Nossa Senhora da Consolação.
.................................
JC In Verso e Reversos(inédito) 2012

POEMA PRA CEGAR TEUS OLHOS

Há neste momento um intenso escuro
a invadir meus poros
e as minhas mãos em desatinos.
Por dentro choro de medo
de todos os pecados que tenho.
Agarro-me no vazio inercial do tempo.
Mas de repente, num piscar de olhos
Escuto teu muxoxo
e o aroma dos teus lábios doces.
Quantos devaneios!..
A solidão me é um castigo.
Contudo eu acredito...
Quando enfim, afago em desespero
a longa maciez dos teus cabelos negros,
além da quietude dos teus pensamentos.
Pleno escuro pela noite adentro.
Pelos ouriçados. Sombras do teu corpo.
Calor dos trópicos
a se derramar em ousados beijos
ainda mais intensos
em meio a uma vastidão de vaga-lumes.
Tento neste singular momento,
e a todo custo, alcançar teu cosmo.
Luz que me acende todo.
Gesto de coragem
e do mais puro atrevimento.
Íntimos acenos na direção dos teus mistérios.
Verbos e gritos pluralizados
indefinidamente...
Assim prossigo
banhado de escuro,
sonhando plenilúnios,
a acariciar teu rosto.
Ternura indecifrável dos teus medos.
O toque é frio.
É gélido o intumescer dos teus mamilos.
Tudo o mais que me resta é o mudo.
Silêncio profundo e eterno.
Quando enfim, sinto em meus dedos
Teu pulso, o respirar intenso.
O tic-tac do coração batendo.
E o vento a nos instigar
outros carinhos ainda mais ousados.
E logo depois de tudo - cansaço...
Tochas de fogo e tições acessos
por sobre meus braços
e no vazio que carrego sobre os ombros.
Milhões de bichos sonolentos.
Pássaros pretos e agourentos
Cantado pela noite adentro,
os versos mais lindos
que fim em teu nome.
Sinto neste instante eterno
que tu estais comigo.
Língua suave que me queima todo.
Razão que sobrevivo em carne e osso;
desejos, mistérios e sentimentos.
E tudo passa aos poucos...
Ocaso ansiando madrugada.
Claras manhãs de perfume.
Sonhos superlativos e intergalácticos
de quem constroe utopias a pulso,
quando me dizes que é feliz
porque vivo.
Em seguida, consumando o gesto
depois de tudo.
E quanto eu de novo, fico cego
te querendo escuro
que ainda tenho aqui por dentro.
................
JC(inédito)
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IMAGINANDO EM VOZ ALTA

Quanta fantasia.
Aventura e outras utopias.
Voracidade louca.
Desejos incontidos.
Plena volúpia de que ama
Intensamente.
Gestos plurais
No mais profundo dos exageros.
E de repente,
Num piscar de olhos
Sinto-me preso e batido
terrivelmente
entre feras.
E logo em seguida,
Por puro capricho,
tu me tens por inteiro
em tua boca.
Quanta loucura.
Quantos gestos
Verbalizando
Estranhamentos vários
Entre teus dedos
E tuas mãos
Na direção dos lábios.
...................................
José Cícero
In Eu e outros Eus...(inédito 2012)

Um Poema à Cachoeira dos Índios Kariris novos de M. Velha

A CACHOEIRA

Quão majestosa, exuberante e bela.
O atrativo natural de Missão Velha.
Milagre das águas a esculpir nas eras geológicas
A arte de Deus por sobre as pedras.
Símbolo maior do tempo que a natureza encerra.
Imensas rochas,
murmúrios das águas.
Correntezas do Salgado
se precipitando em grandes quedas.
Pedra da Glória.
Segredos e mistérios de outras eras.
Expressão do Cariri em seus encantos.
Deslumbre da biosfera
a nos encher os olhos
de incomum beleza.
Bela e histórica Cachoeira
de Missão velha.
...........................................
De: José Cícero(Inédito 2011)

EU QUERO

QUERO DE NOVO O MEU ANTIGO SERTÃO

Eu quero...
Um ramo de Arruda.
Uma reza,
Uma novena.
Uma rudia de melão.
Uma rapadura.
Um rádio de pilha
Um frasco de água benta.
Uma loção de charisma
Uma naigade de fumo de corda
Uma cumbuca
Uma quartinha de água dormida.
Uma meizinha
Pra dor de barriga e dente.
Um canivetepra fazer a barba.
Uma espoleta de espigarda.
Um estrume de brasa
Para espantar burrachudo.
Uma arrupemba
para peneirar puba.
Um pilão de angico
Um moinho de ferro
e de vento.
Um gole de aguardente
do alambique.
Um catemba de côco
cheia de garapa e de tiborna.
Um fuso de tecer cordão.
Uma almofada de bilro
Uma trempe de pedra.
Um tição de fogo
Uma cumbuca.
Uma forquilha de pote.
Cera de arapuá
Mel de canudo
Um som de besouro mangangá
Um banho de biqueira
Uma cangaia
Umatipóia.
Um topada no toco
pra gente chamar com gosto
a palavra - "rapariga"!
Uma anágua de viúva.
cuarando na latada.
Uma lagarta de fogo,
Uma baía.
Um mergulho no açude
Uma caneca d’água fria.
Um chiqueiro de porco.
Um couro de jibóia
Um cuia,
Uma arapuca
de pegar canção.
Uma gaiola de palito.
Uma poesia matuta.
Um repente
de Bil Pereira, Pedro Bandeira
e Patativa.
Um forró de Gonzagão.
Um samba lascado
no pé da serra.
Uma nega dançadeira.
Uma calunga.
Uma balança de peso
Um punhado de farinha seca.
Uma velha rezadeira.
Uma faca sete polegadas
amolada dos dois lados.
Uma rolinha
Caldo de feijão.
Um bigu no carro-de-boi
Um anzol
Para pescar piaba.
Uma prosa sob o luar
a dois.
Um paiol de andu e de arroz
Uma muda de cajá
Um monte de imbuá
para se brincar na areia.
Um cavalinho
feito de pé de milho.
Um landuá para se pescar
um pinico pra gente mijá
Um oratório.
Um candeeiro de azeite
Uma cruz.
um circo de roda,
um palhaço perna de pau
um rolo de corda de caruá
Um rosário de contas.
Piru e mingau.
Papel de embrulho
para enrolar sabão.
Cocada de leite e pão doce.
Ponche de Limão
mangusta e aluá.
Baião de dois com pequi
paçoca, toresmo e carne seca
pão de minho pisado
com nata e commanteiga.
Eu quero tudo isso.
E mais um pouco.
Nada do que tenho hoje
não me basta.
Quero de novo
apenas meu sertão.
rios e açudes cheios.
Para eu pular bunda canastra
até dizer chega

-------------
José Cícero
In Minhas Metáforas prediletas
Inédito-2012

O Peregrino da Sorte

Andei, andei, andei...
Não vi na vida nada que me surpreendesse
ou que me agradasse.
Virei filósofo.
Como um andarilho do planeta
aprendi tudo por mim mesmo.
Sofri o diabo pelo oco do mundo.
Fui poeta, aventureiro, eremita.
Dom Juan, Quixote agora celibatário.
Amei todas as mulheres que admirei
e passei fome de carinho.
Travei como sempre o bom-combate.
Não me arrependo de nada do que fiz,
tampouco do tanto que sofri.
Tudo o que passei eu quis...
sofro muito mais pelo deixei de fazer
e que deixei para trás.
Morri diversas vezes.
Tantas quantas me que foram necessárias.
Como a fénix mitológica
das cinzas renasci.
Outras vezes ressuscitei
em meu próprio corpo.
Tudo que tenho agora como essência
chamo de experiência.
Uma conjugação de coisas
e sentimentos que experimentei.
Vivo a solidão que eu mesmo escolhi.
O velho e o novo agora existem em mim
na mais absoluta das harmonias.
Andei, andei, andei...
E agora que pensei que estava em casa
todos se foram.
Eu fiquei.
Mas nesta tragédia do tempo
apenas eu sobrevivi.
Como um inútil solitário da vida
não tenho o que fazer de mim.
Sinto que não caibo mais em todo canto.
Sou um estrageiro,
um exilado na terra em que nasci.
Angustiado, diante desta estação fantasma
permaneço nesta linha sentado
- trilho que interliga futuro e passado.
Esperando pacientemente
o velho trem de passageiro
que me levou um dia...
E que agora me transporte
para onde estão todos aqueles
que amei
e que aqui deixei quando parti.
...................................................
JC - In Poemas para a minha morte
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DESEJOS...

Como é triste sonhar
todo o impossível
das coisas que existem,
mas que sempre estão além das nossas posses...
Além do alcance das nossas pobres mãos
cheias de ansiedades e desejos.
Como é triste
Desejar o que não é nosso.
O inalcançável,
o imponderável.
Como abstrações do supra físico.
Desfazer-nos dos anseios mais recônditos.
Nos tornar vazios dos idílios.
Amar no singular.
Sofrer por querer e de desejar
o que é dos outros.
Não poder pegar com os olhos...
Sentir com os lábios e com os dedos,
verbalizar a solidão
num trubilhão de medos
Não se permitir amar.
Renunciar todo o mistério
de aprender ao poucos
e coletivamente,
dividir os sentimentos
na sua conjugação
mais forte
dos amantes.
......................
José Cícero In Versos e Reversos(inédito)
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UM POEMA A UMA IMAGEM

Olho esta foto
que completamente desconheço
porém admiro
em verdadeiro sobressalto.
Tento por isso mesmo
dedicá-la um poema.
Quem sabe um dístico
num gesto ousado e desprendido.
Algo sem nenhum sentido prático
que mal vale o que de fato
estará escrito.
Uma declaração de encantamento
em que meus olhos
se entregam por completo.
Uma missiva em desuso.
Um discurso de amor profundo,
um tanto mecânico
e simplório.
Algo deveras inexplicável
meio que sem propósito.
Um ato falho.
Um lenitivo.
Um gesto assaz famélico
de escrever qualquer troço
e a qualquer preço.
Um presente ilusório
de toda atenção que acaso tenho.
E que devoto à guisa de deslumbramento
a este poema mágico e maravilhoso
que por algum motivo inusitado,
ou talvez por falta dele.
simplesmente dou o nome fúlgido e belo
de Mulher - Realismo fantástico
de todo a criação
do gênero feminino.

JC - Inédito/2011

Uma Ilação Poetificante...

OS VATES

A precisão do verso
rompendo o silêncio
burguês e sertanejo
noite adentro.
Um hai-kai.
Um dístico.
Um repente.
Um decassílabo.
Um martelo.
O violeiro
a desfilar seu improviso
com a rapidez do raio.

O verso inconfundível.
O toque pontuado.
O violeiro.
Poeta brejeiro
em desafio direto
ao vate citadino.
Construtor do estro.
Brado ligeiro.
Bancada,
repente.
Luz de neon
e candeeiro
......................
José Cícero In Verso e Reversos(inedito)
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Uma pitada de versos...

UMA MIRAGEM, DEPOIS DO FIM.

Sem palavras.
Sete assassinos.

Um hino fúnebre
de penitentes
dedicados aos defuntos
insepultos.
Sem diálogo.
Dez mortos
no meio da noite
Enterrandos vivos
em seus desânimos.
Raios que os partam.
Sem sentido.
Sete carneiros.
Um pai-de-chiqueiro
medonho e fedorento.
Uma cadela no cio
Um jumento de osso duro
relinchando
e se espojando,
sobre o monturo
dos pobres ricos.
Vários cangaceiros
dançando xaxado.
Ladrões engravatados
que venderam Cristo
agora bem sentados
nos seus tronos.
- ouro de tolos.
A pastorear seus túmulos.
.................
JC in Poética pra que te quero(inédito)

Uma Ilação Poetificante...

OS VATES

O verso inconfundível.
O toque pontuado.
O violeiro.
Poeta brejeiro
em desafio direto
ao vate citadino.
Construtor do estro.
Brado ligeiro.
Bancada,
repente.
Luz de neon
e candeeiro
......................
José Cícero In Vreso e Reversos(inedito)
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Um Poema à Liberdade

Eu quero que todos os passarinhos
Sejam livres.
Fora das gaiolas.
Voando alto
sobre as montanhas do mundo.
Vivendo a liberdade
negada pelos homens.
Quero com isso
concretizar toda a utopia
que me for possível.
Quero destruir
todas as prisões da vida.
E que os homens(e mulheres)
desde então,
sejam livres
assim como os pássaros
E o pensamento humano.
Que o céu desde então,
seja o limite.
para o otimismo
de todos aqueles
que ainda crêem na vida
e não perderam
a capacidade de acreditar.
....................
José Cícero -
In 'Sonhos de Pássaros e Melancolia' - inédito 2011
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ENCANTA-ME DEPRESSA

Encanta-me com teu jeito.
Olhar de quem deseja
Todo o universo.
E eu mergulho
no azul dos teus olhos.
Feito oceanos imensos
Em que navego
em bilhões de barcos
entre teus abrolhos,
Como um solitário
Pescador de sonhos.
Devora-me com teus beijos.
Olhos claros.
Repletos de horizontes
e outros segredos.
Caminhos em que me perco
pescado teus carinhos.
Carmim dos teus lábios
A espargir sorrisos
Como se fossem flores
multicoloridas
Brotando em teu rosto.
.........
Jc/ Versos Dispersos(inédito 11)
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DESLUMBRE...

Pura penumbra..
Pensamentos todos
em desvario.
Um vento frio
a percorreer teu corpo.
Pleno arrepio
de poros e pêlos.
Sentimentos
em sobressalto
e um olhar perdido
profudamente,
como dedos em afagos
e desatino,
baratinados
por entre o desalinhos
e a maciez
dos teus cabelos.
Imensas sombras
escuridão do mundo
Em que tu se escondes
de todos os olhos
Maledicentes
dos que te olham
Embriagados
de tesão e de desejos
alucinados,
Sob o ardor do teu encanto
e todo o perfume
afrodísiaco do teu cheiro.
....................
jc/in minhas metáforas prediletas/11
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Tolos e Babacas todos eles...

Ninguém saberá ao certo
do teu cansaço.
Afinal de contas
Ninguém
Haverá de ter
Nada com isso.
O que te cansa tanto
Muito mais do que o tédio
E teu esforço físico
É a própria estupidez
De todos em querer
Se intrometer
Nos teus propósitos e sentimentos.
Acalma-te e dorme, finalmente
Teu sono justo.
Porque enfim,
todos aqueles que te julgam
e que acaso te condenam
São os verdadeiros criminosos.
Cínicos, covardes e mentirosos
Patrocinadores de todo pecado
Que acaso exista.
São eles os verdadeiros fracos de espírito.
Destarte, só por isso
Invejam-te imensamente.
Bichos gregários
Em seus oportunismos de mercenários.
Você – Liberdade.
Eles – Prisioneiros.
...............
Jc in 'nada para nada'
LEIAMAIS EM:
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Um novo poema novo

MISTÉRIO

Nada mais me toca fundo
Quanto este mistério.
Que tu silencias em tua boca.
Vastos oceanos expressos
Nas longarinas do teu corpo.
Eterno mar de um pensar intenso.
Amar-te para sempre.
Intensamente.
Como nunca ninguém na vida
Conseguiu amar-te tanto.
Nada mais me encanta
Neste silêncio.
Que o teu sorriso encerra.
Que este teu olhar de sol
A se espraiar sobre o horizonte
Prenhe de segredos
E fome de se fazer mulher.
Marés de outono
Palhas de coqueiros
A balançar teus cabelos
No teu caminhar sem rumo
E pensativa à beira mar.
Pleno palpitar de desejos
Sensação de ventos alísios.
Mar imenso e profundo.
Beijos molhados
Calor tropical da tua pele
A roçar meus pelos.
Sal da tua língua
Como em redemoinhos abraços.
Êxtase de todos os sentimentos.
Rio correndo entre os arvoredos
Da tua geografia.
Perdição das tuas ancas
E teus mamilos
A furar meus olhos
Queimando meus dedos.
Flechas certeiras e envenenadas
de índios selvagens
fazendo vítimas
para o banquete tribal.
Nada mais me enlouquece tanto
quanto este teu jeito capcioso
De querer sempre mais.
Lascívia fêmea
Entre tantos e tantos fractais
De pensamentos indizíveis.
Paz do teu sorriso
Ventos frios
Solidão do cais.
Arrebol de cores múltiplas
Como quadros de Dali
Pendurados na abóbada do planeta.
Singular instante
em que todas as manhãs
que de agora em diante e desde muito
nascem sempre em teus olhos azuis.
Beleza rara do mundo e da vida
Em que tu agora mesmo
Em indisfarçável provocação
Caminha pelada
em seu passo de dança.
anjo- mulher
A carregar no corpo
Toda a natureza atávica
E misteriosa da entrega.
.......................
JC/in VersosDispersos/11
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AGUDA SENSAÇÃO

Toda essa agudez
Que trazes nos olhos.
São armas perigosas.
Espadas ninja
Punhais de cangaceiros.
Adaga de Cleópatra.
Fogo de brasas
Incandescentes.
Metálicas facas
De açougueiros
Cortando sem piedade
Minhas entranhas
E minha carne fraca.
Trejeitos íntimos
Puro sentimento
De quem ama
Sem nenhum medo.
Corpo que me encanta
Paixão extrema
No mais completo desatino
De um kama-sutra.
Idílios de amores absurdos
E estranhos
Que nos persegue em pesadelos
Pelas noites adentro.
...................................
JC - In Abstrações do Acaso.2010
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Leia-me se for capaz

À LUZ DE VELA...

Em noites claras
tu me alumias
com a luz dos teus olhos.
E logo se revelas
com brasas vivas
nas mãos
e um calor dos trópicos
entre tuas pernas.
Infindos carinhos.
Tochas de fogoacesas.
em milhões de confidências
espersas.
Turbilhão de gestos
Queimando-me por dentro
Com teus beijos.
Luz de vela...
Brasa viva
que por minha conta
e risco
eu me entrego
sem medo e por completo.
Candeia
eternamente acesa.
Farol marítimo
a soccorer os náufragos.
Luz que me guia
na direção do porto.
Mar revolto
emoções que guardo
Entre meus dedos
Alucinados.
Luz dos teus olhos
lampiões acesos
em meu caminho.
Caravela em que fujo
e que sempre volto
E me entrego todo.
Velas
Em que viajo
Vela que me alumia
E que queima
Os meus pecados.
............
Jc in meus fastasmas Interiores-2011(inédito).
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........................
Entre águas de cheiro e outros sonhos

Assisto meio que absorto
O teu silêncio.
Aroma de flores silvestres
Que colho
Para enfeitar teu rosto
agora em pranto.
Lágrima dispersas
que compartilhamos
Entre risos
E sofrimentos.
Beleza farta
e inconteste
como água benta derramada
Entre angústias e lamentos
pedras lavadas
deste rio calmo
que trazes nos teus olhos
abismos de sentimentos
em que mergulho sempre.
Solidão de águas calmas
Em que nos banhamos
Como anjos pelados
em sacrifícios.
Mares represados
em teus sonhos
mais antigos.
Amores que dividimos
como transatrlânticos
à deriva
no meio dos oceanos imensos.
>>>
JC - Minhas Metáforas prediletas:Inédidot/11

Vinho Feminino

Um copo vazio.
Um corpo lindo.
Um olhar iluminado.
Um sorriso embriagado
Um cálice bento.
Um copo cheio.
Pleno de beijo
E abraço.
Um afago
Um carinho
Um muxoxo
Engraçado.
Um sorriso.
Um lábio
Encarnado
Pitado de batom
Adocicado
Pelo melhor
Dos vinhos.
Uma paixão
A que nos entregamos
Por inteiro
E nada mais
lembramos
no dia seguinte.
...........................
Jc-Inédito 2011.
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Jorge Luis Borges

"Todas as invenções humanas são extensões do próprio homem... Já os livros é a extensão da memória e da imaginação."
________________________________

COMO DE RESTO....*

A Crítica que faço

A uma sociedade que se imagina puder tudo, saber tudo, mas que no fundo ainda não se apercebeu da sua fragilidade. Do seu quase completo despautério. Tanto moral quanto ética e humano; por não fazer nada diante do caos. Só nos resta por conta disso - o cinismo.

Por isso, a unanimidade da sua grande maioria em relação a tudo que é chulo e medíocre. A moda impondo aos fracos de consiciência cultura e de espírito o mau de todo o consumismo exacerbado na sua versão mais absurda e perversa.

Como ainda a opção do inglês em detrimento da nossa língua vernácula. Da música pobre e miserável que ora se escuta. Do big brother e de tantas outras enfremidades ditas "legais" e moderninhas a consumir como verdadeiras pragas a nossa mais autêntica identidade humanística e nacional. Da maneira como tudo está e, se processa, em verdadeiras avalanches de ignorância e aculturamente... difícil mesmo é prever onde tudo isso irá parar.

JC - In Crítica sobre o Caos - 2005

................................

“POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão. Atravancando o meu caminho. Eles passarão. Eu passarinho!”

Mário Quintana

ÁRVORE DOMÉSTICA

Lembro-me ainda hoje
com saudade.
Daquela árvore
que quando menino,
na vila em que eu morava
escolhi como amiga.
Era uma árvore triste.
Não era frutífera, nem frondosa.
A sombra que ela proporcionava
Era esparsa,
porém era agradávele fresca.
Seu tronco era oco
onde um grande Arapuá morava.
Velha árvore que relembro.
De galhos retorcidos e falhos.
Um pau ferro - um tal de Jucá.
Madeira dura com a própria vida.
Árvore velha esquecida e abandonada
à margem da estrada
por trás da antiga cadeia desativada.
Ermo lugar onde ninguém mais passava.
Quando muito aos domingos,
nos dias de feira
os homens deixavam amarrados nela,
seus cavalos.
E quando eles no seu pé mijavam
me faziam raiva.
Tenho saudade agora
daquela velha árvore
- Pé de pau ferro.
Que não sai da minha memória.
E que no passado, quando menino,
a escolhi como amiga.
Aquela árvore triste
não existe mais agora.
Cortaram-na com machado
para acender fogueira.
Tenho, pois muita saudade dela.
Grandes recordações
daquela que foi um dia
a minha inesquecível e verdadeira
árvore doméstica.
............................

JC - Miscelânias de uma vida toda(inédito/11)

AUTOENGANADORES*

Aqueles que insistem tanto
em se mostrar que sabem muito.
Que são ricos e bonitos
sob a esnobação do seu falso luxo.
No fundo,
são todos eles, uns fracos.
E na maioria, mentirosos.
Como é comum, amiúde, serem fracos
- os arrogantes.
Traidores da própria consciência.
Em geral mentem mais para si mesmos
do que para os outros.
Pensam que enganam muitos,
não obstante serem eles próprios - os enganados.
São por isso mesmo – uns loucos.
Medíocres ignorantes.
Dignos de nossa pena,
tanto quanto de castigo e de cuidados.
Meros escravos do sistema...
Vítimas da própria invencionice:
- realidade ilusória,
que eles mesmos inventaram
e que de fato: não existe.
No entanto, em relação a todos eles;
Todo cuidado,
ainda é muito pouco.
_______________
Jc - 16.02.2011

sexta-feira, 30 de março de 2012

Uma Flor para Millôr - Por José Cícero

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